fb

Sustentabilidade

6 min de leitura

A inevitável e brutal urgência do agora

O que as empresas que passam de maneira mais fácil por uma crise, saem da crise antes do restante do mercado, e crescem de forma exponencial após cada crise, têm realmente em comum? Talvez seu real problema não seja nem a pandemia, nem a quarta revolução industrial

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

15 de Maio

Compartilhar:
Artigo A inevitável e brutal urgência do agora

A cada crise que passamos, mais pessoas e organizações mudam o seu nível de consciência em relação as suas práticas pessoais e corporativas. Ficamos mais conscientes do que é realmente importante e essencial para nossas vidas. Nesse processo de “passagem” pela crise, algumas empresas padecem, outras passam com sequelas emocionais, financeira e em outras dimensões. Algumas se fortalecem a cada crise.

Como sabemos, existe apenas três coisas que são garantidas na vida: 

1. Um dia vamos morrer. Apesar de muitos esforços e estudos, muitos pesquisadores acreditam que este é mais um problema que ainda não foi resolvido. Mas vamos em frente para a próxima;

2. Vamos pagar impostos. Por mais elaborada que seja nossa estratégia de tributária através de operações em paraísos fiscais, os impostos são um grande equalizador e não há como fugir dele. De alguma forma em algum lugar, em alguma relação comercial você incorrerá neste segundo fato garantido na vida; e por fim

3. Vamos passar por outra crise. O que é uma crise? É um ajuste. Na natureza, uma enchente, uma erupção, um terremoto, um furacão e qualquer outra catástrofe climática, o que abre espaço para se criar o novo, o nascimento de uma oportunidade de escrever a nova história. A crise é algo natural e um ajuste para redesenhar o futuro de forma melhorada. 

Quando você olha para trás e reconhece as crises que já passou, o que você percebe? Como você passou pelas crises passadas? Em que categoria você estava a cada crise? Em que categoria estava a sua organização a cada uma das crises passadas?

Em nossas estruturas mentais criamos processos descontinuados e estanques para explicar fenômenos, transições e mudanças. Por exemplo quando falamos das diferentes revoluções industriais:

  • Primeira revolução industrial (1760 – 1840) - Foi a quebra do primeiro paradigma. A produção deixou de ser artesanal e as máquinas a vapor permitiram a produção em grande escala.
  • Segunda revolução industrial (1850-1945) - Envolveu o desenvolvimento de novas indústrias: química, elétrica, de petróleo e aço, além desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação.
  • Terceira revolução industrial (1950 – 2010) - Foi marcada pela substituição do analógica pelo digital e alavancado pela internet.
  • Quarta revolução industrial (iniciada em 2011) – Tem a ver com a confluência de praticamente todas as tecnologias hoje existentes.

Por mais que estabeleçamos início e fim destas revoluções, elas começam antes destas datas e muitas ainda não terminaram. Existem partes do mundo que ainda não passaram completamente nem pela primeira revolução. Outras partes do mundo seguem na segunda e terceira. A desigualdade de desenvolvimento e de consciência no mundo e o nível de maturidade de cada um e de cada organização faz com que essas revoluções sejam concomitantes em muitas partes do mundo. O mesmo acontece na natureza, alguns vulcões não têm mais atividade, outros ainda não entraram em erupção e outros seguem em atividade. Os sinais de mudança estão disponíveis antes das catástrofes naturais, precisamos prestar atenção neles.

Onde você está em relação as revoluções já identificadas? Como estamos escutando os sinais? Está escutando algum sinal?

ESCUTAR, O VERBO PRIORITÁRIO

O que aprendemos em nossas pesquisas e explorações é que as organizações e as pessoas que as lideram estão em diferentes níveis de consciência e por isso podem estar se deparando com diferentes revoluções e por consequência reagem de forma bastante diferente diante das crises.

O que aprendemos é que um negócio consciente, empático e humanizado está escutando o tempo todo em quatro dimensões principais:

  • Está escutando a sua essência, o porquê de sua existência de sua organização, e se ajustando para manter sua relevância,
  • Está escutando seu ecossistema, reconhece a interdependência, e se fortalece pela força do seu elo mais fraco,
  • Está escutando como o ecossistema se comporta em relação a sua proposta de valor, e trabalha para que todos estejam em um mesmo ritmo para o sucesso coletivo, e
  • O líder está escutando seu chamado, seu propósito pessoal alinhado com a causa da organização, olhando para o longo prazo ao invés de focar no “ego-sistema”.

O que é esse processo de escuta ou de empatia? Nós traduzimos isso para os fundamentos de um capitalismo mais consciente. Identificamos as empresas que passam de maneira mais fácil por uma crise, saem da crise antes do restante do mercado, e crescem de forma exponencial após cada crise tem evidências claras de:

  1. Ter uma causa clara. Sabem por que a sua organização existe. Muitas vezes perdemos o rumo e a conexão com a essência da nossa organização, deixamos de escutar as mudanças e nos transformamos em uma commodity ou, pior ainda, nos tornamos irrelevantes, o que fica evidente em tempos de crise, quando perdemos vendas de forma dramática. Qual o propósito evolutivo do seu negócio? - Não é difícil associar essa perda de rumo à fábula do sapo que morre dentro da panela com água que vai esquentando lentamente. 
  2. Reconhecer a interdependência. Como na natureza onde tudo está conectado, no mundo dos negócios tudo também está conectado. Apenas existimos por causa dos fornecedores, funcionários, clientes, investidores e comunidade. Sem isso nenhuma organização existe. A forca do nosso ecossistema de negócios é tão forte quanto nosso elo mais fraco. Em crises algumas empresas se promovem com compromissos de não demitir seus funcionários, mas estendem prazos de pagamento de seus fornecedores de 30 para mais de 90 dias. As demissões podem não ocorrer na sua organização, mas você força o seu ecossistema a demitir pela restrição financeira que você causa, e no momento de recuperação seu ecossistema não consegue te atender. Como você cuida do seu ecossistema, ou você só olha para dentro de casa?
  3. Ser um movimento. Ter a força do comportamento coletivo a favor de sua causa. Muitas organizações ainda vendem um produto ou um serviço. Para assegurar o futuro em qualquer uma das revoluções, sua organização precisa criar uma cultura responsável, ter funcionários engajados, clientes promotores, fornecedores dedicados e comunidades defensoras da sua presença. Se tem sentido pressão de preços nos seus produtos ou serviços, você ainda não iniciou a revolução mais importante. 
  4. Tem uma liderança que serve a causa da organização. Se os seus líderes são incentivados por resultados de curto prazo, estão focados em seus egos e não conhecem seu propósito pessoal, não importa qual revolução que sua organização esteja passando, ela não sairá saudável dela. 

Os fundamentos do capitalismo consciente são a essência de qualquer organização. Se você não está resolvendo um problema através de sua organização, certamente você estará do outro lado, causando um problema. Isso é um sinal que a cada próxima crise a sua organização sairá mais debilitada.

Se sua empresa não está resolvendo um problema, ela está causando um problema

Independentemente se a sua organização ou seu ecossistema já tenha completado as revoluções industriais anteriores, todos estamos passando pela quarta revolução industrial. Essas revoluções mapeadas são oportunidades de atualizar o ferramental operacional de nossa organização.

Mas, se você não estiver escutando seu ecossistema, não serão a crise da pandemia ou a quarta revolução industrial que vão te derrubar. A pergunta é: Você ainda acha que é uma organização independente? Só precisa olhar para dentro para resolver seus problemas ou superar seus desafios? Então seu problema não são as revoluções industriais, você precisa de uma revolução interna para voltar a ser relevante e se alavancar com as oportunidades oferecidas pelas 4 revoluções industriais. 

Nossos estudos demonstram que as empresas que aplicam estes fundamentos, conseguem, no longo prazo (15 a 20 anos), resultados financeiros de até sete vezes maior que a média de mercado, como vemos no Capitalismo Consciente - Guia Prático. São organizações humanizadas, que se mantêm constantemente na revolução da empatia, da escuta, da interdependência, da causa, da relevância.

Para ativar os fundamentos do capitalismo consciente solicite uma cópia do e-book Ativador de Negócios Conscientes aqui.

Compartilhar:

Autoria

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

Cofundador e ex-diretor geral do movimento do capitalismo consciente no Brasil, Thomas Eckschmidt é autor de Conscious Capitalism Field Guide e outros livros práticos para implementar os fundamentos de um capitalismo mais consciente. É ainda cofundador e CEO da Conscious Business Journey, uma rede de consultores com o propósito de acelerar a transformação para um ecossistema de negócios conscientes e atua como conselheiro em diversas empresas.Em seu site www.CBActivator.cc, Thomas disponibiliza um e-book sobre como ativar a consciência da sua organização. Ele encabeça o podcast Capitalista.Consciente, encontrado nos principais tocadores.

Artigos relacionados

Imagem de capa A importância dos relatórios ESG vai aumentar – e muito

Sustentabilidade

15 Março | 2024

A importância dos relatórios ESG vai aumentar – e muito

Impactos das novas diretrizes de relatórios da UE ultrapassarão as fronteiras da Europa, exigindo que empresas relatem sobre impactos materiais

Brian Tomlinson e Lucy Godshall

9 min de leitura

Imagem de capa A importância do "S" na estratégia ESG

Sustentabilidade

29 Fevereiro | 2024

A importância do "S" na estratégia ESG

Líderes têm o desafio de colocar o pilar social na ordem do dia. Nova pesquisa Latam mostra as oportunidades que começam com os próprios colaboradores

Denise Turco

5 min de leitura

Imagem de capa Como ESG e agressividade tributária influem em valuationAssinante

Sustentabilidade

19 Dezembro | 2023

Como ESG e agressividade tributária influem em valuation

Como o mercado se comporta, simultaneamente, em relação à agressividade tributária e às práticas de sustentabilidade das empresas? Uma análise de empresas listadas na B3 entre 2016 e 2021 sugere que, quanto maior a pontuação em ESG registrada pela organização, mais impostos ela recolhe. Faz parte do perfil dessas empresas evitar riscos fiscais e de reputação desnecessários. Leia o artigo campeão do Prêmio ESG - FAMA Investimentos

Jusceliany Rodrigues Leonel Correa, Valcemiro Nossa, Silvania Neris Nossa e Carlos Eduardo de Freitas
Imagem de capa Um rating ESG de gestores de ativos pode mudar tudoAssinante

Sustentabilidade

19 Dezembro | 2023

Um rating ESG de gestores de ativos pode mudar tudo

Mensurar as ações sustentáveis de uma empresa não é fácil, e isso às vezes acaba abrindo a porteira para o “greenwashing”. Mas é possível estimular que as organizações, de fato, transformem suas culturas e adotem boas práticas de ESG. Uma solução pode ser um novo índice de avaliação para gestores de ativos que leve em conta essa necessária mudança de paradigma. Leia o artigo vice-campeão do “Prêmio ESG - fama re.capital 2023”

Leonardo Augusto Dufloth
Imagem de capa A COP, as lentes e o maior dos dilemas

Sustentabilidade

01 Dezembro | 2023

A COP, as lentes e o maior dos dilemas

A prestação de contas da Conferência do Clima de Dubai, que começou ontem, vai deixar claro: as coisas estão indo mal no combate ao colapso climático e o dilema principal está longe de ter sido enfrentado. Mas acompanhar a COP pode ser útil para acelerar conscientização e mudanças

Viviane Mansi

4 min de leitura