Da visão à realidade: como os OKRs estão transformando os objetivos de equipe em 2024
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Até início do século passado, a produção agrícola era essencialmente livre de resíduos químicos. Entretanto, muitas das invenções químicas usadas nas grandes guerras mundiais abriram as portas para pesquisas e desenvolvimentos de inseticidas, pesticidas e adubos sintéticos. A moda pegou. Os sintéticos se espalharam rapidamente pelo mundo, trazendo ganho de escala significativo e maior lucratividade para a indústria de alimentos.
Esse crescimento acelerado dos sintéticos despertou um alerta nos agricultores preocupados com a conservação do solo e com a diversidade de plantio. A partir desse contexto, o termo “orgânico” foi cunhado, e um movimento se iniciou nos Estados Unidos - maior mercado de orgânicos do mundo - e em diversos países da Europa.
Esse é um mercado avaliado em aproximadamente US$ 165 bilhões (equivalente a R$ 930 bilhões). Somente no Brasil, os orgânicos já movimentam mais de R$ 4 bilhões e vêm ganhando força, mesmo diante das adversidades trazidas pela Covid-19.
Os alimentos orgânicos são obtidos por um processo de produção não prejudicial ao ecossistema. Em outras palavras, o foco é na sustentabilidade.
No Brasil, assim como na maioria dos países, os orgânicos são regulados por lei, controlados pelo Ministério da Agricultura e por organismos credenciados. As leis e os organismos controladores têm as seguintes finalidades: promover uma oferta de produtos livres de contaminantes; reduzir riscos aos produtores, aos consumidores e ao ambiente; preservar a diversidade biológica; aumentar a fertilidade do solo e evitar a sua contaminação; estimular a integração dos participantes da produção orgânica; incentivar reciclagem e reutilização de resíduos orgânicos em processos como a compostagem; promover boas práticas e o bem-estar de animais.
O grande mito dos alimentos orgânicos é a falsa concepção de que são mais saudáveis e seguros que os alimentos não orgânicos. Entretanto, diversos estudos mostram que não há variações significativas entre eles. Cito aqui um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Standford, nos Estados Unidos. A pesquisa teve duração de quatro anos e os resultados, publicado em 2012, mostraram não haver variações nutricionais significativas, nem níveis de pesticidas suficientemente elevados para por em risco a saúde humana, seja em adultos ou crianças.
Então, a pergunta que fica é: por que pagar mais caro por alimentos orgânicos? A resposta, em minha análise, é sustentada por três pilares:
Sustentabilidade: os recursos naturais são limitados e as práticas da produção orgânica ajudam a preservar o solo e o meio ambiente. Um produção sustentável garante, por consequência, que as futuras gerações terão acesso a solos agriculturáveis por mais tempo, garantindo seu sustento. Um fato evidente é que nossos hábitos de consumo influenciam o futuro da humanidade.
Redução da exposição dos agricultores aos pesticidas: apesar de os alimentos não orgânicos apresentarem níveis de pesticida não prejudiciais aos consumidores, os agricultores e animais, por outro lado, estão expostos a esses componentes químicos durante o processo fabril.
Sabor diferenciado: outro apelo dos orgânicos, já foi confirmado por muitos paladares, é que eles apresentam sabor e textura diferenciados.
Há várias empresas, no Brasil e no mundo, com seus modelos de negócios pautados no movimento dos orgânicos. Um grande exemplo mundial é o Whole Foods. Aqui no Brasil, pode-se ter acesso a um lista considerável dessas empresas por meio da Organis – Associação para Promoção dos Orgânicos –,uma organização sem fins lucrativos focada do movimento dos orgânicos.
Um modelo de negócio tem por objetivo a criação de valor, entrega de valor ao cliente e captura de valor ao acionista.
Criação de valor. Os modelos de negócio das indústrias de alimentos orgânicos criam valor através de suas práticas sustentáveis, da redução à exposição aos pesticidas e do sabor diferenciado. Pode haver variações, mas esse é o conceito central desse modelo de negócio.
Entrega de valor. Essa consiste em como esses alimentos orgânicos chegam aos consumidores. Hoje, percebemos dois grandes canais para essa função: o canal direto e o indireto. O canal de vendas direto é composto, em sua maioria, pelas feiras de hortifrutigranjeiros, onde os produtores locais expõem seus produtos. Já os canais indiretos são lojas especializadas e supermercados. Nesses, normalmente o produtor precisa adaptar suas embalagens, que levam o selo de certificação de produtos orgânicos para garantia da proteção do consumidor.
Captura de valor. Por último, porém não menos importante, está a captura de valor ao , que é o maior desafio desse modelo de negócio. A produção de orgânicos é mais cara que a convencional e apresenta ciclos fabris mais longos. Repassar esses custos não é tarefa fácil devido a um de dois motivos: há uma grande fatia de consumidores que não pode arcar economicamente com custos superiores ou há falta de conhecimento e consciência dos benefícios desses produtos.
Nesse sentido, ações de promoção e conscientização sobre os orgânicos, lançadas tanto pelo governo quanto por associações ou empresas, são primordiais. Já em relação aos custos, percebe-se grande evolução ao longo dos últimos anos. Porém, parcerias publico-privadas ou de empresas com universidades podem fomentar ainda mais inovações para resolver as lacunas de custos e de escalabilidade da produção de alimentos orgânicos.
Em suma, o movimento dos orgânicos é muito vantajoso e até essencial quando pensamos em futuro. A pergunta que fica é: como acelerar as ações de conscientização e de inovações para aumentar a produção de orgânicos com custos acessíveis?
Especialista em liderança, estratégias e operações. Suelen Schneider tem experiência de mais de 20 anos, onde ocupou posições-chave de liderança em uma das maiores empresas do Brasil. Hoje, é consultora empresarial e mentora de líderes na empresa que ajudou a fundar, a MultiConcept. Suelen é doutoranda em Liderança e Mudanças Globais pela Pepperdine na Califórnia, tem mestrado pela FGV e especializações pela University of Califórnia em Irvine, Indian Institute of Management Bangalore na Índia, Yale School of Management nos EUA e Koç Universiti na Turquia. Já conduziu diversas pesquisas relacionadas ao futuro da liderança, participação feminina na liderança e inclusão.
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