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As oportunidades estão onde não existe mercado

Mais do que investir em tecnologia, o Nubank, no setor financeiro, e o Dr.Consulta, na área de saúde, criaram mercados e modelos de negócio visando os não-consumidores

Colunista Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Christimara Garcia e Efosa Ojomo

20 de Agosto

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Artigo As oportunidades estão onde não existe mercado

"Onde o comércio prospera, as pessoas prosperam" essa frase de Ajay S. Banga, presidente executivo da Mastercard, pode ser bastante inspiradora. Embora a pandemia de covid-19 tenha feito com que as pessoas em todo o mundo lutassem imensamente, também poderia servir como um ponto de virada.

A pandemia tem destacado muitas desigualdades, como a exclusão educacional, de saúde e financeira. Vistas de uma perspectiva diferente, essas podem ser oportunidades promissoras para empresas abordarem questões persistentes e ajudarem as pessoas não só a se recuperarem da pandemia, mas também prosperarem.

Neste caminho, de acordo com a Edison Alliance, 1,7 bilhão de pessoas em todo o mundo ainda estão sem uma conta bancária ou de internet banking. Referimo-nos a esses potenciais clientes como não-consumidores.

Os não-consumidores são pessoas que se beneficiariam de usar um produto ou serviço, mas são impedidos de fazê-lo porque as opções disponíveis são muito caras, demoradas ou são inacessíveis a eles. Em muitas economias em crescimento, a população de não-consumidores para a maioria dos produtos e serviços supera em muito a dos consumidores. Como resultado, inovações que tornam os produtos simples e acessíveis podem se tornar novas e poderosas oportunidades de crescimento.

Esses novos mercados são duplamente atraentes para novos negócios uma vez que não existem ainda concorrentes estabelecidos. E, além disso, eles desempenham um papel fundamental na expansão do acesso aos recursos necessários, ajudando a reduzir muitas das desigualdades e injustiças que vieram à tona recentemente.

Para muitas empresas, os não-consumidores parecem pouco atraentes devido aos seus escassos recursos e baixo poder de consumo, mas para organizações que criam mercado, como o Nubank, os não-consumidores apontam para oportunidades.

Lançado em 2013, quando 55 milhões de brasileiros ainda permaneciam sem acesso a bancos, os fundadores do Nubank observaram significativo da falta de consumo de serviços financeiros no Brasil e identificaram uma oportunidade de tornar os bancos simples e acessíveis. Para isso, o negócio que se iniciava identificou quais barreiras estavam impedindo potenciais clientes de terem acesso a serviços financeiros, como tempo, dinheiro, acesso e/ou habilidade. Em seguida, o Nubank desenvolveu um modelo de negócio inovador que derrubou essas barreiras.

Gerando cadeia de valor no mercado financeiro

Além de atender às necessidades dos não-consumidores, os fundadores do Nubank foram pioneiros ao criar um mercado totalmente novo no Brasil. Seguindo o Nubank, muitas outras empresas foram fundadas para atender também a esse novo e crescente mercado, incluindo Banco Inter, Banco C6, Neon, além de muitos outros.

A nova atividade econômica nos serviços financeiros levou os bancos tradicionais a participar e, eventualmente, tornar mais fácil e acessível para grande parte da população abrir contas bancárias. Mais do que impulsionado por melhorias tecnológicas, o novo mercado foi criado com base na implementação de novos modelos de negócios.

Como resultado, mais de 20 milhões de brasileiros que foram excluídos dos serviços financeiros agora têm acesso aos mesmos. O desenvolvimento desse novo mercado tem sido tão poderoso que levou a muitas mudanças no setor financeiro, inclusive adaptando o marco regulatório existente para apoiar novas fintechs. Criadas em grande parte pelo Banco Central do Brasil, novas regulamentações como o Sistema Brasileiro de Pagamentos, pix (pagamento instantâneo) e open banking (que permite que os clientes tenham acesso e portabilidade dos seus scores de crédito) são apenas alguns exemplos de como as inovações podem beneficiar positivamente o sistema financeiro e a sociedade.

Essas regulamentações, aliás, desencadeadas pela criação desse novo mercado, servem também para garantir a concorrência no livre mercado e a manutenção de soluções acessíveis e simples para a população.

Novo mercado de saúde

Em nossa pesquisa, nos deparamos com inúmeras outras organizações que também criaram mercados poderosos depois de identificar e direcionar o não consumo. Já escrevemos sobre o Dr. Consulta, uma cadeia de clínicas de saúde que foi lançada em 2011 depois que seus fundadores observaram que aproximadamente 30% dos municípios brasileiros não possuíam hospitais e um quarto não tinha médicos. O Dr. Consulta não está apenas visando o não consumo com suas clínicas de saúde acessíveis em São Paulo, mas também está abrindo as portas para que outras empresas de todo o País se inspirem a repensar seus modelos de negócios. Um exemplo disso é a Clínica do Bem, uma rede de clínicas médicas com múltiplas especializações que oferece atendimento médico humanizado e de qualidade a preços justos e acessíveis, incluindo em seu ecossistema a Atend Já, Vital Saúde e muitas outras.

Esses novos serviços de saúde, acessíveis e expressos, são divisores de águas para milhões de pessoas no Brasil que antes não podiam pagar o seguro de saúde e tinham que contar com os serviços públicos de saúde ineficientes e lentos.

Enquanto a covid-19 escancarou muitas desigualdades enfrentadas pela nossa sociedade, a maioria delas já existia muito antes da pandemia. Olhando por essa perspectiva, as empresas e empreendedores devem buscar pioneiros como o Nubank e o Dr. Consulta para se inspirar. Ao criar mercados que visam a falta de consumo, empresas e empreendedores não só tornarão a vida das pessoas melhor para as pessoas — e colherão as recompensas ao fazê-lo —, mas irão poder transformar também suas regiões e países.

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Autoria

Colunista Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Efosa Ojomo é um pesquisador sênior no Clayton Christensen Institute, onde lidera a pesquisa do núcleo de Prosperidade Global. Já Christimara Garcia é a fundadora da Catalyze Innovations Initiative, um Action Tank com a missão de promover inovações criadoras de novos mercados no Brasil. Efosa e Christimara desenvolvem uma parceria entre o Clayton Christensen Institute e a Catalyze Innovations Initiative com o intuito de ilustrar o poder que as inovações criadoras de mercado têm sobre organizações e sociedade na promoção de desenvolvimento socioeconômico e da prosperidade.

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