fb

Inovação

4 min de leitura

Capital catalítico: novas arquiteturas financeiras para gerar novos mercados

Capital catalítico é um modelo de financiamento essencial para abrir mercados, pois gera impacto socioeconômico, envolve concessões, flexibilidade e tolerância ao risco, se estruturando de forma diferente dos investimentos convencionais

Colunista Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Christimara Garcia e Efosa Ojomo

14 de Janeiro

Compartilhar:
Artigo Capital catalítico: novas arquiteturas financeiras para gerar novos mercados

O acesso a investidores e recursos é um dos maiores desafios que empreendedores das economias em crescimento enfrentam. Empreendedores que buscam inovações criadoras de mercado enfrentam um obstáculo ainda mais difícil.

Inovações criadoras de mercado transformam produtos complicados e caros em produtos simples e acessíveis para que mais pessoas na sociedade possam acessá-los. Essas inovações criam uma base para um crescimento econômico robusto, e não só retiram pessoas da pobreza, mas também as catapultam para a prosperidade.

No entanto, inovações criadoras de mercado requerem muitas vezes um tipo diferente de capital, uma vez que exigem que as organizações produzam, comercializem, vendam serviços e anunciem produtos para pessoas que historicamente não tinham acesso. Como tal, essas inovações são mais que apenas produtos ou serviços, são verdadeiros sistemas que muitas vezes requerem um aporte financeiro diferenciado.

Por exemplo, antes de empresas como a MicroEnsure entrar em cena, produtos básicos de seguros não estavam disponíveis para a maioria das pessoas em muitas economias em crescimento. Hoje, a empresa atende dezenas de milhões de pessoas antes consideradas não-consumidores em Gana, Quênia, Índia, Paquistão, Filipinas e Tanzânia. Para isso, a MicroEnsure precisou levantar milhões de dólares.

Encontrar o instrumento financeiro certo para construir os sistemas que sustentam inovações criadoras de mercado é muitas vezes um grande obstáculo para “criadores de novos mercados”, já que a maioria dos veículos financeiros tradicionais não são criados para construir sistemas. Eles são mais criados para escalar produtos e serviços. Uma abordagem de financiamento diferente poderia desbloquear oportunidades significativas que, de outra forma, seriam perdidas pelos investidores tradicionais.

O capital catalítico como solução

De acordo com o Catalytic Capital Consortium, o capital catalítico é o capital de investimento que é paciente, tolerante a riscos, de concessão e flexível, se estruturado de forma diferente dos investimentos convencionais. É uma ferramenta essencial para preencher lacunas de capital e alcançar amplitude e profundidade de impacto, ao mesmo tempo em que complementa o investimento convencional.

O capital catalítico proporciona impacto e desbloqueia o investimento convencional de várias maneiras, como ajudando a provar produtos novos e inovadores e modelos de negócios, demonstrando a viabilidade financeira de geografias e populações de alta necessidade; e crescentes esforços em pequena escala para que possam atrair investimentos convencionais. Assim, o capital catalítico pode assumir a forma de dívida, equity ou garantias.

O capital catalítico permite ainda que o investimento aportado impulsione o impacto profundo, especialmente na criação de novos mercados e na chegada a novos setores e geografias.

Investimento blended finance

O capital catalítico é um componente essencial de outros domínios mais amplos do investimento de impacto, como o blended finance, uma arquitetura financeira que combina fontes públicas ou filantrópicas para estruturar oportunidades de investimento com retorno de risco aceitável para o setor privado em mercados em crescimento.

Nos últimos anos, blended finance mobilizou cerca de US$ 161 bilhões em capital, sendo 46% destes recursos destinados a transações na África Subsaariana e 16% na América Latina e Caribe.

Finanças sob medida: a experiência brasileira

Permitir ou catalisar investidores que poderiam não ter feito um investimento e deixando de gerar um alto impacto requer novas soluções financeiras sob medida. A Din4mo, uma venture-builder brasileira, que visa construir um empreendedorismo inovador e ousado, desenvolveu novas soluções de estrutura financeira para facilitar a criação de novos mercados.

A Din4Mo e o Grupo Gaia, uma empresa da área financeira e certificada como “BCorp”, se uniram para desenvolver a primeira debênture de impacto social do Brasil. O título foi concebido a partir do conceito de blended finance como uma solução para dois grandes gargalos da criadora de novo mercado, Vivenda, especializada em reformas de casas: capital de giro e crédito para clientes de baixa renda. A operação permitiu que a empresa levantasse R$ 5 milhões com o potencial de impacto de cerca de 32 mil pessoas em cinco anos.

Até que as pessoas em todo o mundo tenham acesso universal a produtos e serviços que podem melhorar suas vidas, sempre haverá uma oportunidade de mercado para direcionar não-consumos com produtos simples e acessíveis.

Agora, mais do que nunca, com tantas pessoas lutando para sobreviver, os investidores têm a oportunidade de capacitar empresas, como a Vivenda e muitos outros, e reduzir o desemprego apoiando empreendedores em dificuldades em mercados em crescimento que visam o não consumo através de novas arquiteturas financeiras como a blended finance usando o capital catalítico.

Gostou do artigo da Christimara Garcia e Efosa Ojomo? Aproveite e faça o download gratuito de um e-book sobre Os 7 papéis do head de inovação. Além disso, confira o artigo escrito por Marco Gorini para a edição número 8 da MIT Sloan Review Brasil: A hora e a vez do blended finance.

Compartilhar:

Autoria

Colunista Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Christimara Garcia e Efosa Ojomo

Efosa Ojomo é um pesquisador sênior no Clayton Christensen Institute, onde lidera a pesquisa do núcleo de Prosperidade Global. Já Christimara Garcia é a fundadora da Catalyze Innovations Initiative, um Action Tank com a missão de promover inovações criadoras de novos mercados no Brasil. Efosa e Christimara desenvolvem uma parceria entre o Clayton Christensen Institute e a Catalyze Innovations Initiative com o intuito de ilustrar o poder que as inovações criadoras de mercado têm sobre organizações e sociedade na promoção de desenvolvimento socioeconômico e da prosperidade.

Artigos relacionados

Imagem de capa A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapasAssinante

Inovação

29 Fevereiro | 2024

A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapas

Levar empresas industriais à era digital pode ser uma tarefa árdua – dificultada, muitas vezes, pelo uso de indicadores errados para avaliar o processo. Pesquisa revela que obtêm sucesso as organizações que fazem a transformação digital em três etapas, cada uma com métricas próprias. Conheça o método e veja como aplicá-lo

Nitin Joglecar, Geoffrey Parker e Jagjit Singh Srai
Imagem de capa Digital aproxima serviços de saúde do formato varejistaAssinante

Inovação

31 Janeiro | 2024

Digital aproxima serviços de saúde do formato varejista

Com os avanços da tecnologia e a chegada de pesos-pesados do varejo ao ramo, que as clínicas de varejo vêm despontando para ajudar a deixar o setor de saúde mais dinâmico, integrado, digital e responsivo. Conheça as principais iniciativas, lá fora e no Brasil

Norberto Tomasini
Imagem de capa A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agoraAssinante

ESG

31 Janeiro | 2024

A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agora

Se nada for feito, a inteligência artificial pode se tornar uma das maiores emissoras de carbono da economia global. Mas com boas práticas, estratégias eficientes, conscientização e, claro, maior uso de fontes renováveis de energia, esse quadro pode ser revertido. Veja como agir

Niklas Sundberg
Imagem de capa Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Inovação científica

17 Janeiro | 2024

Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Ecossistemas de inovação dependem de trocas de experiências, colaboração, conectividade e diversidade de talentos para prosperar | por Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

4 min de leitura

Imagem de capa Espiral 5E: inteligência natural para a resolução de problemas complexos

Inovação

23 Novembro | 2023

Espiral 5E: inteligência natural para a resolução de problemas complexos

O processo de transformação contínua da natureza de explorar, visualizar, capacitar, executar e avaliar, tende a ser interrompido no mundo acelerado da atualidade. Mas é fundamental olhar para os outros E’s na espiral, especificamente explorar e visualizar

Katsuren Machado

4 min de leitura