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Davos além de Davos

Vale a pena buscar menos a polêmica e mais o valor agregado pelos conteúdos do Fórum Econômico Mundial – como o manifesto de Klaus Schwab

30 de Janeiro

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Artigo Davos além de Davos

Como ocorre todos os anos, janeiro começou com um dos grandes eventos da gestão, diria até que um evento não só da gestão, mas do mundo globalizado hoje, que foi o encontro de Davos organizado pelo WEF – World Economic Forum.

 Sou desde sempre um adepto dos conteúdos e pesquisas produzidas e compartilhadas pelo Fórum Econômico Mundial. Para os que ainda não se atentaram aos seus conteúdos, recomendo-os mais até que o próprio evento. Este ano foi dada grande atenção às questões climáticas e demasiado espaço na mídia aos líderes mundiais. Confesso que vi mais a busca pela polêmica do que pelo valor agregado que este evento proporciona.

Não vou me debruçar sobre o que de mais midiático foi tratado ali. Gostaria de focar o WEF Davos Manifesto 2020: The Universal Purpose of a Company in the Fourth Industrial Revolution. Que estamos vivendo a quarta revolução industrial não é novidade, mas muitas são as empresas que ainda não interiorizaram essa mudança e seus impactos.

Eu me refiro sobretudo à mudança do propósito das empresas, que precisa ser revisitado e realinhado com o mundo atual e futuro, um mundo direcionado pelos impactos da tecnologia e conectividade. Escreve Klaus Schwab no manifesto que, agora, “o objetivo de uma empresa é envolver todas as partes interessadas na criação de valor compartilhado e sustentado”. E ele continua: “Ao criar esse valor, uma empresa atende não apenas seus acionistas, mas todas as partes interessadas - funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e sociedade em geral. A melhor maneira de entender e harmonizar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é através de um compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortaleçam a prosperidade de uma empresa no longo prazo”.

No contexto de transformação que vivemos, a própria noção de criação de valor muda. De um foco em produto para um foco em cliente e por consequência em sociedade e contexto. Neste sentido, o texto de Schwab segue assim: “Uma empresa é mais do que uma unidade econômica geradora de riqueza. Realiza as aspirações humanas e sociais como parte do sistema social mais amplo. Seu desempenho deve ser medido não apenas no retorno aos acionistas, mas também em como ele atinge seus objetivos ambientais, sociais e de boa governança. A remuneração dos executivos deve refletir a responsabilidade com as partes interessadas”. 

Talvez por isso os temas climáticos tenham garantido tanta atenção recente; afinal, perenidade não se garante apenas fazendo produtos ou serviços que não se atentem à responsabilidade do momento econômico, social e ambiental que se vive e que tem sido o foco das gerações mais novas. 

Porém o ponto mais crítico dessa reflexão provavelmente aparece no terceiro ponto do manifesto: “Uma empresa que possui um escopo multinacional de atividades não serve apenas a todos os envolvidos diretamente envolvidos, mas atua como uma das partes interessadas - juntamente com governos e sociedade civil – do nosso futuro global. A cidadania corporativa global exige que uma empresa aproveite suas principais competências, empreendedorismo, habilidades e recursos relevantes em esforços colaborativos com outras empresas e outras partes interessadas para melhorar a situação do mundo.”

Para sermos relevantes (multinacionais ou não), nossas atenções e competências como gestores e empresários, e também como alunos, professores e profissionais de todas as áreas, precisam ser atualizadas, garantindo a incorporação de competências até agora deixadas em segundo plano. Ainda do mesmo WEF o Future of Jobs Report fortalecia o entendimento de que precisamos dotar nossos talentos humanos de novas e mais atualizadas competências, como a lista abaixo sugere, e da qual venho falando com frequência nesta coluna:

  1. Pensamento analítico e inovador.
  2. Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem.
  3. Criatividade, originalidade e iniciativa.
  4. Design e programação de tecnologia.
  5. Pensamento crítico e analítico.
  6. Resolução de problemas complexos.
  7. Liderança e influência social.
  8. Inteligência emocional.
  9. Raciocínio, resolução de problemas e ideação.
  10. Análise e avaliação de sistemas.

No limite, a mensagem desta primeira coluna de 2020 é: não podemos dar atenção a Davos só quando ele acontece em janeiro; precisamos ir além de Davos para saber lidar com a transformação crescente dos negócios e do mundo.

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