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Energytechs: o vetor da inovação no mercado de energia livre

Com a abertura do mercado, startups ganharão protagonismo com a chegada de tecnologias disruptivas e novas abordagens comerciais no setor de energia

Paulo César Teixeira

28 de Outubro

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Artigo Energytechs: o vetor da inovação no mercado de energia livre

O mercado brasileiro de energia iniciou sua transição na direção de abertura para um mercado livre. Diversos são os movimentos, inclusive regulatórios, ancorando o processo de modernização do setor. Uma das mudanças depende da aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei 414/2021 (a previsão é que seja votado nos próximos meses), que vai assegurar ao consumidor o direito de escolher o fornecedor de energia, como já ocorre em outros países.

Um passo importante foi dado no dia 27 de setembro quando o Ministério de Minas e Energia publicou no Diário Oficial da União a Portaria Normativa 50, que permite que todos os consumidores de energia elétrica em alta tensão possam aderir ao mercado livre de energia a partir de 1 de janeiro de 2024. A portaria atinge um grupo de 106 mil consumidores de energia.

Nesse cenário, a busca por inovação fará diferença no xadrez mercadológico, colocando em evidência a atuação de startups. A principal contribuição desse ecossistema de grande potencial, mas ainda incipiente no Brasil, será facilitar a democratização do acesso à energia, além de contribuir para a preservação do meio ambiente com a aplicação de tecnologias que se baseiam em energia limpa e renovável.

Para Carlos de Mathias Martins, fundador da Ecoinvest, holding de investimentos que tem como foco projetos de energia renovável, e colunista da MIT Sloan Management Review Brasil, há um gap entre a necessidade de inovação e a robustez do sistema originado de empresas estatais. “Neste sentido, as energytechs vão introduzir tecnologias disruptivas e trazer novas abordagens comerciais”, afirma.

Modelo de parceria

Para os especialistas, o conceito de open innovation é o impulsionador da inovação no setor de energia. “Até algum tempo atrás, as grandes empresas caminhavam sozinhas nesse tema. Mas, nos últimos anos, se viram obrigadas a chamar startups para ajudá-las a resolver problemas que se tornam cada vez mais complexos”, diz Danilo Lima, diretor de inteligência de mercado e marketing da 2W Energia, plataforma de soluções em energia com mais de três mil clientes.

Como exemplo, ele cita o caso da Voltbras, startup brasileira de mobilidade elétrica, que recebeu aporte de R$ 3 milhões para criar uma plataforma que viabilize a gestão de postos de recarga de veículos elétricos. Participaram da rodada de investimentos a EDP Ventures Brasil (veículo de investimento de capital de risco da EDP), Perseo (programa internacional de startups da Iberdrola, empresa controladora do Grupo Neoenergia) e a Domo Invest (uma das principais gestoras de Venture Capital no Brasil).

Outro exemplo é o de uma chamada pública de startups realizada por Furnas, em parceria com o Senai, em novembro de 2021, com o objetivo de encontrar novas tecnologias voltadas para o enfrentamento à covid-19. Na ocasião, duas startups do Rio de Janeiro (Copacabana Holding e Simex) e uma do Espírito Santo (Intechno) desenvolveram soluções para esterilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) e pulverizar ambientes de trabalho por meio de luz ultravioleta. Na época, os investimentos chegaram a R$ 3 milhões.

Uma vez firmada a parceria com as startups, o desafio das companhias de grande porte é não impor seu próprio padrão de governança, que envolve processos mais morosos e rígidos. “Essa é a receita do fracasso, porque desfaz a vantagem competitiva que a startup traz ao negócio”, adverte Lima. A 2W Energia mantém programas de relacionamento com energytechs que atuam em diferentes áreas, desde empreendimentos incipientes, ainda na fase da ideia, até startups mais maduras, com soluções que podem ser oferecidas aos clientes da companhia.

Mapa da inovação

Segundo levantamento da Liga Ventures, de setembro de 2022, existem 236 energytechs no Brasil. Os segmentos que mais se destacam são os de eficiência energética (com 45 empreendimentos), geração compartilhada (43), data analytics (31) e gestão de consumo (28). Grande parte desses projetos está nas regiões Sul e Sudeste, sendo que São Paulo concentra o maior número de startups (33,47% do total), seguido de Minas Gerais (13,98%), Santa Catarina (13,14%), Paraná (9,75%) e Rio Grande do Sul (8,05%).

Entre as startups, as que são voltadas à economia de consumo ganham cada vez mais espaço. “Energia não é um assunto comum em nossas vidas. Só nos lembramos dela quando falta luz e na hora de pagar a conta”, observa Lima. Historicamente, os saltos de inovação acontecem em momentos de crise, como o apagão de 2001, que resultou em racionamento de energia e que multava aqueles que não atendessem à meta de 20% de economia.

Nessa época, o engenheiro paulista Wilson Poit teve a ideia de alugar geradores a diesel. A princípio, oferecia o serviço às equipes de manutenção das companhias. Quando passou a ofertá-lo aos diretores financeiros, que tinham na ponta do lápis os prejuízos do racionamento, o negócio decolou. Em 2012, a pequena empresa de Poit foi vendida por R$ 400 milhões à britânica Aggreko. Hoje, Poit é presidente do Conselho de Administração da Light.

Outro marco é a crise energética de meados dos anos 2010, que aumentou os preços das tarifas acima da inflação. Conforme levantamento do hub Distrito, a maior parte das startups que atua hoje no setor de energia foi criada a partir de 2016. Uma delas é a Clarke, fundada em 2019. Ela começou desenvolvendo medidores residenciais para apontar os vilões do consumo de energia nas casas, como lâmpadas, geladeira e ar condicionado. A certa altura, priorizou a identificação em tempo real do excesso de consumo de equipamentos industriais.

Já a Auten Energy, surgida em 2018, que conecta pequenos e médios negócios a usinas de energia renovável, é exemplo de startup que atua na geração de energia compartilhada. Esse modelo de negócio foi impulsionado a partir de 2016 por uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segundo a qual toda a energia gerada precisa ser consumida na área de concessão da distribuidora, o que estimula a oferta de soluções locais, como miniusinas com um contingente de 2 mil a 5 mil consumidores.

Um dos segmentos que tende a crescer bastante é o de processamento de dados, principalmente com o aumento de conectividade proporcionado pelo 5G. A rede de quinta geração de telefonia móvel começou a ser implantada no Brasil no dia 6 de julho. Neste caso, além de impulsionar avanços tecnológicos, as startups poderão atuar na análise de dados para a criação de novos modelos de pacotes de comercialização, adequados a cada perfil de consumidor. “Se determinada consumidora ficar mais tempo em casa pela manhã, por que não oferecer a ela tarifas mais em conta neste período? E por que não ofertar ao jovem universitário uma assinatura de patinete elétrico junto com o pacote de energia?”, sugere o diretor da 2W. Pelo jeito, o que não falta é energia para inovar no setor.

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Autoria

Paulo César Teixeira

Colaborador de MIT Sloan Review Brasil

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