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Tecnologia e inovação

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Setor bancário acelera investimentos em nuvem

A partir de mudanças nas alavancas de valor, instituições latino-americanas devem aumentar gastos com cloud pública em 37% ao ano até 2023

Angela Miguel

25 de Junho

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Artigo Setor bancário acelera investimentos em nuvem

Embora seja um dos setores mais regulados do mercado, o ramo bancário brasileiro sempre esteve à frente de muitas das inovações existentes hoje. Com a implementação e o estabelecimento do open banking no país, a partir de fevereiro de 2021, bancos de todos os portes têm encarado novas oportunidades e desafios com os objetivos de reforçar, entre outros fatores, a segurança dos clientes e a agilidade do atendimento.

Como um rápido exemplo desse cenário em constante evolução, um levantamento do Banco Central, divulgado em maio de 2021, indicou que o sistema de pagamentos pix já superou o número de transações de TED, DOC, cheque e boletos somados, sendo responsável por movimentar mais de R$1,109 trilhão desde dezembro de 2020. Desconsiderando os detalhes e circunstâncias para que esse tipo de operação seja possível para todos os brasileiros, é fácil entender como o setor necessita manter suas operações funcionando de maneira veloz e segura.

Para garantir o histórico de resiliência e desempenho do sistema nacional, as instituições financeiras têm optado por investir na adoção da nuvem – e não há nenhuma novidade nisso, afinal, pesquisas mostram que cerca de 95% dos bancos já recorreram à nuvem pública em algum momento. No entanto, a notícia quente (e que merece atenção) está na mudança do comportamento a respeito dessa adoção. Se em um passado recente, apenas startups e empresas nativo-digitais apostavam na migração total para a nuvem, essa decisão está começando a acontecer com maior frequência entre as empresas estabelecidas.

Accenture: o valor da nuvem para o setor bancário Fonte: Accenture - O valor da nuvem para o setor bancário

É claro que essa mudança de comportamento é causada por uma série de razões, assim como ainda há muito espaço para que todas as instituições financeiras do país embarquem completamente na nuvem, mas essa já é uma mudança de paradigma.

“Vemos uma mudança significativa do entendimento das alavancas de valor do setor. Há cinco anos falava-se de cloud para redução de custo de operação de tecnologia, essa alavanca ainda existe, mas hoje os executivos de negócio buscam muito mais agilidade para inovação, redução do time to market, evolução de features e capacidade de conexão com clientes e com o ecossistema”, explica Leonardo Fraga, diretor executivo de digital & technology strategy da Accenture.

Uma combinação inevitável

Globalmente, estudos diversos apontam que as instituições financeiras já possuem cerca de 50% das suas cargas de trabalho na nuvem, sendo que a maioria delas opera em nuvens privadas. Segundo pesquisa da Accenture realizada entre julho e agosto de 2020, esse dado chega a 58%. Ainda assim, quase metade das cargas de trabalho do sistema bancário não estão na nuvem, e especialmente na nuvem pública.

Para Fraga, “essa dúvida entre alocar dados, recursos e sistemas na nuvem privada ou pública tem diminuído entre os executivos, estamos vendo a passagem de nuvem privada para a pública, principalmente devido ao tema da segurança de dados. Ao mesmo tempo, globalmente, há um modelo considerável de clientes apostando na estratégia multicloud, assim os bancos não estabelecem vínculos exclusivos com os provedores e podem aproveitar as fortalezas de cada provedor de acordo com sua estratégia, seja missão crítica, inteligência de dados, desenvolvimento de soluções sob medida para dispositivos móveis, etc”.

Mas como esse movimento acelerou recentemente? O executivo da Accenture cita a combinação de três razões impossíveis de serem ignoradas:

1. O nível de maturidade dos provedores de nuvem cresceu significativamente, o que pode ser traduzido não apenas em serviços, como também na especialização do mercado de trabalho capaz de adotar e implementar a tecnologia.

2. Clareza sobre o valor potencial da implementação da nuvem a partir de cases concretos, fazendo com que a certeza de retorno seja maior e em linha com as expectativas das empresas.

3. A pandemia de covid-19, como não poderia deixar de ser. Entendida como “a grande reinicialização” pelo Fórum Econômico Mundial, a pandemia forçou companhias e consumidores a experimentarem coisas novas e a questionarem antigas ortodoxias.

Caminho sem volta, mas não sem tempestades

A partir dessa movimentação, em 2020, IDC e Accenture projetaram um crescimento de 37% a cada ano até 2023 para os investimentos em cloud pública na América Latina. Quando esse dado é comparado com o estudo da Forrester realizado em 2019 (The Public Cloud Market Outlook, 2019 to 2022), a projeção para a cloud pública é quatro vezes maior do que o crescimento dos gastos com tecnologia em geral.

“É interessante deixar claro que não estamos falando apenas de substituição de custo de tecnologia on-premise, mas de captura de uma curva de crescimento da demanda de tecnologia em função do nível de digitalização que, novamente, sobe por conta da pandemia, forçando organizações em todo o mundo a repensar seu modelo de atuação, de ponta a ponta. Essa acaba sendo uma aposta sem volta e com grande potencial de retorno”, emenda Leonardo Fraga.

O horizonte, portanto, parece aberto e sem previsão de tempestades. No Brasil, a expectativa de crescimento é ainda maior porque, segundo o executivo, o entendimento do mercado local sobre as vantagens da nuvem no sistema bancário é superior à compreensão global. Entretanto, as instituições como um todo precisam aumentar a intensidade das movimentações descritas.

É comum que os bancos (especialmente os tradicionais) enfrentem desafios como a incapacidade de inovar com agilidade, o alto custo de propriedade (TCO), a baixa possibilidade de flexibilidade capacidade de custos, de acordo com a flutuação do volume de negócios, e a dificuldade em manter, atualizar e proteger ativos, o que é reforçado pela escassez de capital humano.

“Ao mesmo tempo, há o desafio da construção de soluções que atendam verticalmente a indústria, e isso está acontecendo em vários setores, não só no bancário. Até por pressão competitiva no longo prazo, isso vai criar uma riqueza muito maior de possibilidades para players de ambos os lados. Nós já vemos em bancos brasileiros uma preocupação grande para criar backbones de interoperabilidade, de modo a resolver os principais pontos de desafio da jornada dos clientes”, exemplifica o executivo da Accenture.

Acelerando estratégias

Bancos de todos os portes buscam a nuvem para atuar sobre temas prioritários de suas agendas como:

  • Aceleração de canais digitais, melhorando a experiência do cliente a partir de funcionalidades intuitivas e inteligentes.

  • Redução de time to market, trabalhando para lançar em tempo recorde novos produtos.

  • Maior elasticidade para absorver momentos de alta demanda e responder rapidamente diante de inesperados.

  • Gestão de riscos e fraudes mais ágeis e robustas.

  • Utilização de plataformas de processamento de dados e analytics para solução de desafios relacionados à segurança e confidencialidade de dados.

Confira mais sobre a mentalidade digital em nossos webinars e nossos podcasts.

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Autoria

Angela Miguel

Angela Miguel é colaboradora da MIT Sloan Management Review Brasil.

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