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Inteligência artificial na saúde: oportunidade ou ameaça?

Assim como no xadrez, em que a combinação do homem com a máquina mostra-se superior a qualquer das partes em atuação isolada, na saúde os “profissionais centauros” devem se destacar

Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

30 de Novembro

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Artigo Inteligência artificial na saúde: oportunidade ou ameaça?

A indústria da saúde está em completa transformação. Impressões tridimensionais de modelos anatômicos, cirurgias robóticas, atendimentos por telemedicina, sequenciamentos genéticos e tratamentos personalizados já são realidade, fazendo com que nossa expectativa e qualidade de vida aumentem cada vez mais.

No meio de tantas inovações, uma se destaca e ocupa a maior parte das matérias, publicações e artigos da área. A inteligência artificial revolucionará a saúde de maneira significativa e possivelmente estará presente em nossas vidas bem antes do que imaginamos. Para alguns, permitirá inúmeras oportunidades; para outros, trará ameaças a perder de vista.

A computação cognitiva já tem promovido diversas oportunidades na saúde, permitindo ganhos de eficiência, aumento da qualidade de diagnósticos e tratamentos, redução de erros processuais e automatização de tarefas burocráticas e repetitivas.

Pessimismo versus otimismo

O que vai acontecer nos próximos anos? Para os pessimistas, seremos cada vez mais dependentes das máquinas e gradualmente substituídos por elas, acarretando desemprego e estagnação econômica.

Para os otimistas, de cuja visão compartilho, a inteligência artificial não irá tomar o lugar dos profissionais de saúde, mas valorizá-los. Ao mesmo tempo em que a máquina assumirá tarefas repetidas, como detecção, mensuração e quantificação de lesões em exames de imagem, permitirá que os seres humanos tenham mais tempo para se dedicar àquilo que fazem de melhor: conversar com pacientes, tranquilizá-los em relação ao diagnóstico e tratamento, discutir resultados de exames e condutas com outros profissionais da área e participar de reuniões multidisciplinares.

Assim como no xadrez, em que a combinação do homem com a máquina mostra-se superior a qualquer das partes em atuação isolada, na saúde os “profissionais centauros”, trabalhando em conjunto com a inteligência artificial, são a aposta do futuro, ao aliar a criatividade, intuição e bom senso do ser humano à consistência, precisão e objetividade da computação cognitiva.

Benefícios para a saúde mental (de profissionais da saúde e de pacientes)

O advento e a popularização dos sistemas de inteligência artificial trarão benefícios significativos para a saúde mental dos profissionais de saúde. Não é segredo para ninguém que muitos deles estão, nos dias de hoje, extremamente desgastados com o excesso de carga de trabalho, insatisfeitos com sua profissão e com sintomas de exaustão física e mental (“burnout”).

A pressão por resultados e o trabalho com sistemas ineficientes e burocráticos de tecnologia da informação geram nos médicos uma insatisfação crônica, com a percepção pelos pacientes de desleixo, arrogância e desinteresse. Segundo dados de estudos científicos, médicos norte-americanos interrompem os pacientes meros 18 segundos após o início da consulta, causando insatisfação naqueles que estão em busca de cuidado e atenção. Forma-se, então, um ciclo vicioso, que leva ao que se chama de “shallow medicine”, na qual o médico tem cada vez menos tempo para o paciente, que se sente só e malcuidado.

Num mundo em que a máquina ganhará cada vez mais espaço, isso tende a ser diferente. Precisaremos nos tornar mais humanos, e será necessário reaprendermos a escutar. Como já dizia William Osler, pai da medicina moderna: “apenas escute o seu paciente: ele está lhe dizendo o diagnóstico”.

Da shallow medicine para a deep medicine

Em resumo, diversas inovações têm modificado significativamente a área da saúde e transformado o modo de atuação daqueles que nela atuam. Ferramentas como a inteligência artificial já trazem muito mais oportunidades que ameaças, liberando os profissionais da saúde para, repito, fazer o que sabem fazer de melhor: atuar com empatia, escutar os pacientes, dar acolhimento e cuidado e interagir com seus colegas.

Ao saber usar o “deep learning”, os profissionais de saúde serão recompensados com a possibilidade da prática da “deep medicine”. O maior beneficiado - o paciente - agradece.

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Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

É fundador, investidor e conselheiro de startups, principalmente na área da saúde. Médico radiologista, com especialização, doutorado e pós-doutorado no Brasil e no exterior. Tem experiência como executivo de grandes empresas de saúde, com MBA em gestão empresarial. Mais informações em: www.gustavomeirelles.com.

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