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Tecnologia e inovação

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Metaverso é um mundo maravilhoso, mas ainda distante

A criação de um universo virtual conectado ao mundo físico trará oportunidades para novos negócios, mudanças nas relações sociais e provocará inúmeras implicações éticas difíceis de serem resolvidas; o problema inicial, contudo, tem nome: falta de infraestrutura tecnológica

Colunista Pablo Sáez

Pablo Sáez

15 de Novembro

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Artigo Metaverso é um mundo maravilhoso, mas ainda distante

No final de outubro, Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, anunciou o lançamento da nova marca, Meta, que será uma companhia adaptada ao metaverso. De lá para cá, o tema passou a ser mais explorado. Contudo, ainda parece haver pouca compreensão sobre o que, de fato, o metaverso é e, principalmente, os desafios para sua criação e as transformações que esse novo mundo irá provocar nas vidas e nos negócios. Importante deixar claro desde já: estamos longe de desenvolver a tecnologia necessária para dar vida ao metaverso.

Metaverso vem do prefixo meta, que significa transcendente, e verso, de universo: universo transcendente, que descreve um mundo virtual interconectado com o mundo físico. A palavra apareceu no livro Snowcrash, de Neal Stephenson, de 1992.

No entanto, a ideia de mundos virtuais habitáveis por nós sempre existiu na cultura e fantasias humanas. Apareceu, por exemplo, em 1982, no filme Tron, que ganhou remake em 2010, bem como em Matrix e em vários episódios da série Black Mirror. Jogos como Second Life e Fortnite também se apoiam nesse universo virtual.

O que é o metaverso

O conceito de metaverso – também chamado de web 3.0 ou spatial web – pressupõe a criação de uma “internet em 3D” que se conecta ao mundo físico de forma natural. Nessa nova web, é possível interagir com entidades virtuais “trazidas” para o mundo real, da mesma forma que nos leva para o mundo virtual.

O usuário, ao invés de consumir texto, vídeo e áudio por uma tela, pode “entrar” num mundo virtual, com a possibilidade de sentir, fisicamente, sensações vividas pelo seu avatar, que seria a sua “persona” neste mundo.

Exemplos? Pense no trabalho remoto hoje e como ele poderia ser se você “entrasse” num ambiente e pudesse interagir com seus colegas de trabalho; imagine uma compra online num ambiente que coloque você numa loja virtual imersiva, parecida a uma loja virtual, em que você (ou seu avatar) entraria na loja e escolheria um livro, roupa ou um automóvel – que tal fazer um test drive de um Porsche num universo que simula uma estrada nos alpes alemães? A imaginação é o limite para as experiências que podem ser criadas.

Quando se tornar realidade, o metaverso poderá ser o nosso local de trabalho, de socialização e de divertimento. Duvida? Pense na quantidade de horas que jovens passam nas redes sociais e compare com a intensidade das experiências do metaverso (quem assistiu ao episódio Striking Vipers, da série Black Mirror, consegue entender. O apelo será muito grande para ser ignorado.

Todavia, o metaverso vai além da inserção num mundo virtual; trata-se de um mundo bidirecional, que proporciona experiências físicas no mundo virtual – e experiências virtuais no mundo físico. Nesse segundo caso, podemos pensar numa pessoa planejando a decoração de uma casa nova. Ela posiciona o sofá virtual no local escolhido na casa – usando óculos ou lente de realidade aumentada. Quando o entregador chegar, poderá, com os óculos dele, saber exatamente onde instalar o sofá real.

Podemos pensar em outras aplicações como um guia virtual que acompanha o turista numa cidade, ou treinamento em que uma pessoa possa apertar um parafuso virtual com uma chave de fenda real.

Implicações do metaverso

A criação do metaverso forçará a sociedade (pessoas, governos e empresas) a repensar questões relativas à lei, direitos, liberdade, privacidade. Com o desenvolvimento do metaverso, será possível uma pessoa criar um avatar independente, que emula o comportamento da “pessoa” por meio de inteligência artificial e aprendizado de máquina.

Se esse avatar cometer um crime cibernético, quem deverá responder criminalmente? Uma pessoa poderá ser demitida caso seu avatar desrespeite um colega ou não cumpra um prazo?

O metaverso terá um “dono”? Quem irá controlá-lo? Uma bigtech? O governo de um país? Ou um grupo formado por governos e empresas? Quem vai escolher esse grupo? Os códigos para sua criação serão abertos? Quem será o “juiz” para resolver disputas no mundo virtual?

Há questões mais existenciais: uma pessoa poder ter vários avatares e interagir anonimamente? Será possível assumir a imagem de uma pessoa famosa viva ou de um personagem histórico? Nesse caso, como identificá-la em situações em que isso seja relevante? E o que fazer com o avatar de uma pessoa morta? Ele poderá sobreviver no metaverso? Ou deverá “morrer” com seu duplo?

Além dos aspectos legais e éticos, o metaverso tem potencial para criar uma economia. As oportunidades de novos negócios para as empresas são enormes. É evidente que os objetivos das grandes empresas para o desenvolvimento da Metaverso são econômicos. Um novo mundo com infinitas possibilidades de criação de experiências e jornadas é um grande mercado potencial para trabalhar.

A criação de uma economia virtual paralela, que suporte todos os processos comerciais do novo mundo e com um nível de complexidade ainda maior do que o atual mercado econômico global, será, portanto, inevitável.

Estamos perto de entrar no metaverso?

Apesar da empolgação de Zuckerberg e de muita gente, o desenvolvimento do metaverso passa pela superação de desafios tecnológicos que, hoje, são consideráveis. As atuais redes de transmissão de dados não suportam o montante de dados para renderizar um mundo virtual em altíssima resolução, assim como os processadores ainda estão aquém do necessário. E precisamos desenvolver tecnologias para aumentar a interação entre o mundo físico e virtual – entre outros desafios.

Assim, por enquanto, o metaverso é apenas uma ideia fascinante e empolgante.

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Autoria

Colunista Pablo Sáez

Pablo Sáez

Pablo Saéz é sócio e líder de Digital Technology da NTT DATA.

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