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O processo de internacionalização das startups

A globalização e a necessidade de expansão dos negócios para entrar ou ganhar espaço em novos mercados faz com que muitas startups iniciem o processo de internacionalização

Raphael de Cunto, Juliana Soares Zaidan Maluf e Giovana Raiani de Sá Silva

10 de Dezembro

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Artigo O processo de internacionalização das startups

Um tema sempre constante no mercado das startups e que tem cada vez ganhado mais destaque é a questão da internacionalização dessas empresas. Pode-se verificar como exemplo os cases de seis grandes startups brasileiras: Gympass, Nubank, 99, Stone, Movile e PagSeguro, sendo que muitas outras vem trilhando o mesmo caminho. 

Mas afinal, o que é o processo de internacionalização, quais os seus prós e contras e quais os desafios enfrentados por quem já passou por esse processo? 

O processo de internacionalização pode ser implementado de diversas formas. O mais comum é o processo de expansão internacional do negócio ou produto ofertado pelas startups. A globalização e a necessidade de expansão dos negócios para entrar ou ganhar espaço em novos mercados - e evitar que concorrentes avancem - faz com que muitas startups iniciem o processo de internacionalização, que pode ser verificado mediante constituição de empresa operacional em um mercado externo, ou, até mesmo, mediante realização de parcerias ou aquisição de empresas locais já atuantes em mercado similar com criação de sinergias.]

 Startups com produtos ou modelo de negócios globais acabam tendo mais facilidade ao se internacionalizar, pois não precisam gastar tanta energia adaptando seu produto e/ou negócio para o mercado de destino.    

Outra forma de internacionalização com um viés mais voltado à atração de investidores é a constituição de uma holding no exterior para captação de recursos. Muitos investidores sofisticados e fundos de venture capital preferem – e as vezes têm até mesmo como política interna – não realizar investimentos em mercados locais ou emergentes, optando por investir diretamente em empresas domiciliadas em jurisdições como Cayman e Delaware nas quais eles já têm familiaridade. 

Tais investidores participam de rodadas de captação realizadas por tais empresas e essas, por sua vez, permanecem como acionistas diretos ou indiretos da empresa local operacional, criando, portanto, um layer de proteção aos investidores. Essas rodadas de captação feitas offshore acabam levantando valores expressivos, muitas vezes superiores aos valores levantados em captações locais por trazer mais segurança aos investidores. 

No entanto, embora existam algumas vantagens ao internacionalizar o negócio ou a estrutura societária, existem também alguns desafios que podem inviabilizar o processo ou até mesmo levar a startup ao fracasso. A barreira cultural é sempre um dos maiores desafios, principalmente para empresas que não possuem negócios de natureza global. Muitos negócios que fazem sucesso no mercado local podem não ser atrativos em outras jurisdições por diversos motivos.

A título exemplificativo pode-se citar um dos mais novos unicórnios brasileiros: a Gympass, plataforma de assinaturas de academias. Criada em 2012 pelos empreendedores Cesar Carvalho, Vinicius Ferriani e João Thayro, a empresa começou seu programa de internacionalização em 2015 e foi muito bem-sucedida ao adentrar mercados externos tendo em vista a aplicação global do seu produto. 

A Gympass é vista como uma empresa poderosa por agradar diferentes partes: as empresas que contratam o plano corporativo oferecem o produto como um benefício aos funcionários, os funcionários enxergam valor ao pagar menos do que pagariam caso contratassem um plano de forma não subsidiada, e as academias se beneficiam do fluxo extra de clientes. Em 2015, a Gympass entrou no México e em 2016 já estava em diversos países do oeste europeu, sendo que tais passos fizeram parte da estratégia adotada para adentrar no mercado dos Estados Unidos, mercado considerado mais exigente. 

Em 2019 a Gympass está presente em aproximadamente 18 países e realizou recentemente uma rodada em que recebeu aporte do conglomerado SoftBank. Todo o processo de internacionalização foi estudado e acompanhado de perto pelos seus fundadores, que chegaram até mesmo a se mudar temporariamente para os mercados de destino.

Outro case de sucesso foi a plataforma de marketing digital Resultados Digitais, também avaliada como um unicórnio brasileiro. Atualmente, de acordo com o seu website, a empresa possui escritórios na Colômbia, México, Portugal e Espanha, além dos escritórios espalhados pelo Brasil. 

Além da barreira cultural, existem ainda desafios relacionados ao idioma, custos, complexidade da estrutura e barreiras concorrenciais. O processo de internacionalização e a manutenção de uma estrutura no exterior deve contar com o auxílio de profissionais estrangeiros, tais como assessores legais, financeiros e contadores. 

Por vezes, a empresa brasileira e seus fundadores não conseguem se fazer entender pelos profissionais estrangeiros e vice-versa, já que as leis e práticas funcionam de formas diversas, podendo fazer com que o processo de internacionalização e manutenção da estrutura no exterior resultem em altos custos, podendo, até mesmo, levar ao fracasso da empresa envolvida. 

Dessa forma, antes de pensar em realizar o processo de internacionalização, é necessário verificar se o estágio da startup é condizente com tal processo. Se a resposta for positiva, então é preciso realizar o estudo da melhor forma de implementar a expansão do produto ou negócio e entender muito bem o mercado em que se pretende adentrar, identificando e adiantando possíveis barreiras e desafios que serão enfrentados. 

Dentre os cases de sucesso acima mencionados, é possível verificar que as empresas tinham os seguintes pontos em comum: 

  • Encontravam-se em estágio mais consolidado quando optaram por implementar a internacionalização;
  •  Tinham certa disponibilidade de recursos financeiros para poder fazer o processo de forma eficiente e assessorada por bons profissionais;
  •  Tiveram o cuidado de estudar o mercado de destino antes de dar esse grande (e muitas vezes decisivo) passo em suas histórias.
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Autoria

Raphael de Cunto, Juliana Soares Zaidan Maluf e Giovana Raiani de Sá Silva

Rafael é sócio da área de tecnologia de Pinheiro Neto Advogados, Juliana é associada da área Private Equity de Pinheiro Neto Advogados e Giovana é associada da área Private Equity e Venture Capital de Pinheiro Neto Advogados

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