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Tecnologia e inovação

4 min de leitura

Agrotechs: as novas ferramentas financeiras que estão revolucionando o setor

Como o uso de dados, tecnologia e novas estruturas financeiras está desencadeando uma revolução financeira para um setor carente de recursos

Tiago Araujo Dias Themudo Lessa e Rafael Gaspar

06 de Agosto

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Artigo Agrotechs: as novas ferramentas financeiras que estão revolucionando o setor

Internacionalmente, não resta qualquer dúvida: o Brasil é o celeiro do mundo. Somados ao clima favorável e solo fértil, qualidades como pioneirismo, inovação e desenvolvimento de tecnologia de ponta levaram o Brasil à posição de líder global na produção e exportação de alimentos e matérias primas de origem animal e vegetal.

Apesar da revolução agrícola e tecnológica implementada, enfrentamos há décadas um desafio que, por muitas vezes, pareceu insuperável: a falta de recursos financeiros para o agronegócio. Ainda hoje, no século 21, temos um setor altamente dependente de financiamentos públicos e privados insuficientes, forçosamente complementado por agentes não-financeiros – especialmente tradings, revendas e indústrias químicas. Trata-se de característica única, não adotada em qualquer outro mercado desenvolvido do mundo: são as nossas “jabuticabas financeiras”.

No entanto, uma revolução financeira está se desencadeando no setor.

Alavancado pelo uso de novas tecnologias, especialmente melhor tratamento de dados e uso de inteligência artificial, o setor de crédito em geral vem se modernizando e novos agentes, especialmente as fintechs, começam a se consolidar como os novos intermediadores permitindo a pulverização de recursos na sociedade.

No agronegócio, o cenário não é diferente. A soma das novas ferramentas financeiras apoiadas em tecnologia, somadas ao uso de mecanismos inovadores para acompanhamento remoto do desenvolvimento e produtividade das lavouras (especialmente por meio de satélite) em todos os seus estágios, assim como uso e distribuição de insumos, oferece uma base de dados sem precedentes.

Das informações limitadas ao acompanhamento em tempo real

Enquanto um credor financeiro há 10 ou 20 anos disponibilizava recursos no início da safra com base em informações limitadas e recursos extremamente restritos de acompanhamento, a tecnologia de monitoramento atual permite o acompanhamento em tempo real, como dados precisos e detalhados sobre variáveis como produtividade de áreas, variações climáticas, correto uso e aplicação de insumos, entre outros.

Da mesma forma, tradings e fornecedores de insumos que mantém relação comercial com produtores possuem também diversas ferramentas para análise mais detalhada de clientes, correto uso de seus produtos e sua real efetividade. A tecnologia deve alavancar maiores avanços, em tempos mais curtos. No mundo da análise, concessão e monitoramento de crédito para produção agrícola, estamos agora em outro patamar.

Fornecederes, credores e produtores

É importante destacar, no entanto, que a revolução não se dá apenas nas pontas fornecedoras e/ou credoras das relações. Os produtores rurais, independentemente de tamanho, cultura ou região, que sempre foram vanguardistas na produção rural, têm também demonstrado grande facilidade para adaptação e uso de novas tecnologias para diversos aspectos administrativos, especialmente aqueles envolvendo novas alternativas de financiamento.

Nesse contexto, ferramentas como assinaturas eletrônicas ou digitais – cuja segurança jurídica vem sendo reiterada e fortalecida pelos legisladores – têm se tornado regra no campo. Problemas simples muitas vezes decorrentes da dificuldade em se obter maiores dados sobre produtores rurais, ou mesmo o simples desafio de obter assinaturas em regiões remotas decorrentes de nossa grande área agrícola, vem sendo superadas pela tecnologia.

Com efeito, um número muito maior de produtores passou a ter acesso a novas fontes de recursos, seja por meio das fintechs de crédito ou, especialmente, estruturas de securitização. A redução de custos operacionais e novas ferramentas de monitoramento trazidas pelas novas tecnologias vêm reduzindo substancialmente os custos envolvidos, tornando tais estruturas cada vez mais atrativas.

O resultado? Operações estruturadas, especialmente aquelas voltadas à securitização, têm se ampliado e ganhado cada vez mais espaço, fornecendo vultuosos – e valiosos – recursos destinados ao setor. Emissões de certificados de recebíveis do agronegócio e fundos de investimento em direitos creditórios voltados ao agro vêm batendo recordes em número de operações e volume nos últimos anos. Gradualmente vamos nos aproximando dos mercados mais avançados, como o norte-americano e europeu, onde o mercado de capitais é utilizado como forma de direcionar recursos para o setor.

Mão única

Assim como os desenvolvimentos produtivos, que uma vez identificados não permitem retrocessos, temos aqui um caminho de mão única para o setor. A utilização de novas estruturas financeiras, apoiadas nos desenvolvimento tecnológico e uso das mais sofisticadas operações estruturadas, já são uma realidade e tendem, nos próximos anos, a se consolidar ainda mais. Como em qualquer setor, aqueles que não se atualizarem perderão espaço para os agentes que tomarem a liderança na adoção das melhores – e mais modernas – práticas.

Diferente de um cenário de “soma zero”, temos aqui uma realidade onde todos se beneficiam. Ganham os produtores, como novos recursos a custos mais baixos. Ganham financiadores e fornecedores, com novas alternativas e maior segurança. Ganha o setor, com maior oferta de recursos, tão almejados por muitos anos. Ganha o Brasil, com um setor já pujante obtendo melhores ferramentas para competir com seus concorrentes em escala mundial.

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Autoria

Tiago Araujo Dias Themudo Lessa e Rafael Gaspar

Tiago Araujo Dias Themudo Lessa é sócio da área de agronegócio de Pinheiro Neto Advogados. Rafael Gaspar é associado da área de agronegócio de Pinheiro Neto Advogados.

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