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Design thinking

5 min de leitura

Como especular rotas alternativas para enfrentar 2021?

Em vez de criar um único plano, o melhor é criar múltiplos itinerários em tempos de grande incerteza

Colunista Juliana Proserpio

Juliana Proserpio

20 de Dezembro

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Artigo Como especular rotas alternativas para enfrentar 2021?

O ano de 2020 foi aquele em que toda empresa se tornou uma startup novamente – de alguma forma, seja buscando seu modelo de negócio, seja buscando acertar a sua proposta de valor, seka ajustando seu produto ao mercado que se transformou completamente. Em termos fenomenológicos, 2020 foi o ano da disrupção.

Vimos a maioria dos gestores e empresas jogando os seus planejamentos estratégicos pela janela já logo no final de fevereiro, tendo que liderar e mover seus times a partir de um modelo de alta adaptabilidade e constante avaliação do contexto e necessidades emergentes, tanto de seus clientes como de seus times e processos internos.

"Disrupção se remete ao ato de romper, e de interromper o curso natural", e 2020 nos mostrou em letras garrafais o que significa esse rompimento - em nossas relações físicas, sociais, em nossas viagens, em nossa percepção de saúde, em o que é valioso para nosso cliente, em nosso modelo de negócio, em nosso modelo de trabalho, em nossos valores e expectativas em relação às nossas lideranças.

Se 2020 foi o ano onde nos perdemos no mapa, por favor, não vamos criar um plano para 2021. Em vez de criar um único plano, crie rotas, múltiplas rotas.

Liderar na incerteza é diferente

A liderança em contextos mais previsíveis é muito diferente de uma liderança em contextos de alta imprevisibilidade e ambiguidade. Em momentos de maior previsibilidade, bons gestores são muitas vezes aqueles que buscam organizar os processos existentes para que possam ser repetidos com maior eficácia. Já em momentos de imprevisibilidade, bons líderes agem a partir de uma visão de várias rotas, abrindo espaço para ajustes de percurso e mudanças drásticas.

Adaptabilidade, abertura a novos contextos, análise de necessidades emergentes, e costura dos sinais que se apresentam são habilidades que crescem neste momento. Se seguirmos a lógica das ondas nas pandemias passadas como por exemplo a gripe espanhola que tiveram três ondas, a segunda onda foi ainda mais grave pois todos achavam que tudo já estava resolvido.

Se essa for somente a primeira onda de disrupções, como lideraríamos nossas empresas?

Se o coronavírus fosse uma bomba num contexto de guerra, diríamos que o momento da bomba (ou primeira bomba) já passou, mas ainda não temos certeza de como será a manhã do dia seguinte. Cabe à liderança criar estratégias e rotas para os vários cenários que podem se apresentar na manhã seguinte, e a partir daí navegar com seus sensores ligados para poder fazer ajustes de percurso.

Três macrocenários

De maneira muito simplificada podemos imaginar três macrocenários se desenrolando em 2021:

Cenário A: Imagine um mundo com vacinas, onde a economia pode voltar a se basear em relações físicas e sem restrições num curto espaço de tempo. Existe uma corrida de desenvolvimento de produtos, serviços e entregas e de atenção pelo seu público alvo. Nesse cenário de abundância e otimismo, como fica a sua rota?

Cenário B: Imagine um mundo onde as vacinas irão atrasar, apesar das promessas dos políticos, a produção é escassa e a grande maioria da população precisa continuar em isolamento até pelo menos o final de 2021. Nesse cenário a economia de baixo ou nenhum toque se fortalece e se torna a única alternativa.

Cenário C: Imagine um mundo onde as vacinas começam a ser aplicadas, mas não em grande escala. Algumas pessoas têm acesso e outras não, criando ainda mais iniquidade na sua região e tensão social. Alguns privilegiados voltarão a viver a vida sem restrições e os outros vão se ressentir, ou simplesmente ignorar recomendações de saúde, causando um contágio e perigo ainda mais denso na população. Nesse contexto, talvez bolhas e microrregiões possam ser criadas para aumentar o controle de contágio, formando micro-comunidades. E a economia de baixo toque e a economia de interações físicas coexistem sem necessariamente estarem reguladas. Nesse contexto híbrido qual será a sua estratégia e princípios que você irá seguir?

Em cada um desses cenários, quais os valores e princípios você vai seguir? Como os desejos e comportamentos de seus usuários vão se desenrolar? Como o seu modelo de trabalho se altera? Como o seu modelo de negócio e distribuição muda? Como seus processos podem ser facilitados ou dificultados?

O processo apresentado se baseia numa disciplina chamada design especulativo, onde há uma subversão do modelo de ficção científica e assim se abre espaço para especulações e imaginações de futuros alternativos, críticos, ou positivos, mas todos possíveis que vão além da tecnologia e que mudam a sua maneira de interpretar a realidade.

Três passos para rotear

Como criar rotas para 2021? Sugiro três passos:

1. Pesquise e entenda quais são os sinais emergentes dentro do seu contexto de atuação, e então crie as variáveis para cada um desses sinais.

Quando falamos de entender os sinais emergentes, nós não estamos falando somente de tendências, mas também de pré-tendências. Sinais emergentes podem vir da economia, mas também e principalmente de comportamentos humanos e de tecnologias ainda em ascensão.

Dentro do seu macro e microcontexto, quais são as mudanças e sinais que você está vendo emergir em relação ao seu modelo de negócio ou de precificação, em relação ao comportamento ou necessidades de seus usuários e em relação às tecnologias que você usa ou que poderia vir a usar caso um dos cenários A,B ou C se desenrole.

2. Especule pelo menos três caminhos distintos e extremos de como o impacto do coronavírus somado aos sinais emergentes podem determinar a sua estratégia.

3. Crie um plano de atuação para esses 3 ou mais caminhos e formule uma maneira de acompanhar a evolução dessas rotas para que você possa ajustá-las caso seja necessário. Você estará navegando sempre entre pelo menos 3 alternativas do desenrolar de 2021. Tente também pensar sobre o seu modelo de adaptabilidade na gestão e também de operação com os times e pares que trabalham com você.

Maior resiliência

Dessa maneira você conseguirá se preparar de maneira sólida para 2021, a partir de diversas rotas e vai aumentar sua resiliência a ponto de ficar confortável com mudanças e adaptações do contexto que certamente terão de acontecer.

Pode vir, 2021, que esperamos estar prontos para te receber!

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Autoria

Colunista Juliana Proserpio

Juliana Proserpio

Juliana Proserpio é empreendedora e educadora. Ela é cofundadora e chief design officer da Echos, um laboratório de inovação e suas unidades de negócios, da Echos - Escola Design Thinking - uma escola que coloca a inovação na prática, e da Echos - Innovation Projects, uma consultoria de inovação. De 2011 para cá, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação e a criação de futuros desejáveis no Brasil, em Portugal e na Austrália, onde reside.