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Inteligência Artificial

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Leapfrogging será capaz de acelerar a IA nas organizações?

Aliado à inteligência artificial, fenômeno que se caracteriza pela aplicação de práticas tecnológicas mais atuais sem percorrer estágios anteriores pode ser uma alternativa das empresas que querem dar um salto de desenvolvimento no mercado

Fabian Salum e Karina Coleta

06 de Abril

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Artigo Leapfrogging será capaz de acelerar a IA nas organizações?

Existe uma brincadeira que, em alguns lugares do Brasil, é chamada de “pula carniça”. Ela consiste, basicamente, em pular por sobre uma pessoa (no caso, a carniça) que esteja agachada à sua frente, usando as costas dela como impulso para o salto. Na língua inglesa, essa brincadeira é conhecida como “the leapfrog game”, pois aquele que salta imita o movimento do pulo do sapo.

Leapfrogging é um termo usado na economia, no estudo das teorias de crescimento. Também conhecido por technology leapfrogging, esse fenômeno se caracteriza pela aplicação de práticas tecnológicas mais atuais sem necessariamente percorrer estágios anteriores.

Enquanto os países em desenvolvimento representam terrenos mais férteis para a prática do leapfrogging, as mudanças incrementais são absorvidas rapidamente pelos países e empresas que possuem experiência estabelecida.

Analisando o cenário atual, o fenômeno de leapfrogging é uma das possibilidades para as organizações darem saltos de desenvolvimento no mercado competitivo e digitalizado, com o apoio da inteligência artificial (IA).

O fenômeno leapfrogging se apresenta em diversas vertentes e abrange várias áreas, que têm em comum o redesenho tecnológico como propulsor de ganhos econômicos e de acesso à tecnologia.

A popularização dos smartphones, a facilidade de acesso à internet e o advento das redes sociais representaram importantes marcos para o salto tecnológico. O leapfrogging não tem um modelo padrão, passo a passo ou framework e, sim, a capacidade de conectar quatro grandes disciplinas: gestão, empreendedorismo, inovação e tecnologia. A tecnologia é o meio que permite às empresas, startups ou projetos dentro de organizações, alcançar e superar barreiras, deficiências e obstáculos, transformando-os em oportunidades.

Fintechs, como a Nubank, do Brasil, e a M-Pesa, da África, oferecem um serviço financeiro móvel, que permite aos usuários transferir e conseguir empréstimo, comprar crédito e pagar contas pelo celular. O EVC Plus, da Somália, se diferencia do M-Pesa, ao usar dólares americanos como moeda nas operações da plataforma. As oportunidades detectadas conectam-se às carências dos usuários e dos ecossistemas com as tecnologias impulsionadoras de soluções (leapfrogging). Esses saltos resultaram da oferta de serviços bancários sem cobranças de taxas com acesso gratuito aos produtos que também são oferecidos pelos outros bancos (Nubank), migração da população para a cidade de um sistema bancário limitado (M-Pesa); guerra civil e terrorismo; e instabilidade política e econômica (EVC Plus).

Mapeando outros segmentos, escolhemos a área da saúde. A plataforma AutoBed da GE, de Nova York, reduziu em até quatro horas o tempo de espera de pacientes nas salas de emergência do hospital, monitorando leitos (sensores nas camas). Usando IoT, a equipe de enfermagem do hospital sabe quando a cama ou leito é liberada e onde está localizada. Outro exemplo, o berço SNOO da Happiest Baby, da Califórnia, é um dos exemplos de IoT mais diferenciados. Os recursos “balanço do ventre” ajudam no sono seguro do bebê e o sensor de choro, com ajuste automático de som e movimento, impedem-no de rolar. Isso impacta na melhoria da qualidade do sono dos pais.

Na área de games e educação, temos a FazGame, do Brasil, uma ferramenta de criação de games educacionais para escolas públicas e privadas. O objetivo é integrar games a plataformas de ensino a distância corporativas e universitárias, para proporcionar o aprendizado, aumentar o engajamento e retenção dos alunos, e estimular a capacidade de tomar decisões não linear.

No agrobusiness, a Esoko, da África, auxilia na gestão de dados e consultoria agronômica para os agricultores de baixa renda. A plataforma oferece serviços de coleta e digitalização de dados, previsão meteorológica, crédito digital, seguros, pagamentos e serviços de transação.

E como a inteligência artificial (IA) pode acelerar este salto?

Os grandes gaps de infraestrutura, tecnologia e políticas de incentivo para inovação e empreendedorismo demandam soluções disruptivas para proporcionar alavancas de valor e contribuir para o progresso econômico-social.

A IA tem o potencial de transformar como os setores operam, tornando-os mais eficientes e produtivos para que o “salto” ganhe ainda mais velocidade e agilidade.

O uso inteligente da IA é um caminho para criar novas oportunidades de desenvolvimento. Embora os benefícios potenciais de desempenho através da integração da IA sejam significativos, ainda existem outros desafios para sua adoção.

Ao mesmo tempo em que a IA acelera os processos, ela exige capital humano qualificado, com conhecimento técnico e capacidade de análise crítica, para promover a aceleração do salto. Este é o grande pulo, já que a proposta de valor é usar o mínimo de esforço para alcançar o máximo, economizando tempo para atividades mais importantes.

Recentemente testamos algumas ferramentas, com o olhar de gestores de empresas. Focamos na edição de textos, como a assistente Jenni e o Perplexity, que ajudam a escrever redações, artigos e blogs, auxiliando o usuário a ter mais agilidade e tempo. E não há como negar. É sensacional a rapidez de resposta e os insights oferecidos pelas ferramentas.

Em contrapartida, o uso ético da IA ainda continua a ser um ponto de relevância nas discussões dos usuários que pertencem a ambientes empresariais que optam ou vislumbram a implantação das novas tecnologias nos seus processos e atividades.

Nesse sentido, vale destacar uma vantagem competitiva para as empresas que almejam acelerar a execução de seus processos. Contudo, deverão ser capazes de eleger as ferramentas adequadas, trabalhar a cultura organizacional, preparar a liderança e selecionar competências para agregar valor ao negócio e gerar resultados sustentáveis.

E por fim, vale ressaltar, a ausência de eventuais diretrizes éticas e/ou regulatórias deliberadas pela alta administração das organizações pode fragilizar a integração das tecnologias aos processos. Isso representa, no curto prazo, um risco de legitimidade no uso da IA, o que pode abrir precedentes e prejudicar a sociedade.

E aí, as lideranças estão preparadas para promover o leapfrogging, através do uso das novas ferramentas de IA?

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Autoria

Fabian Salum e Karina Coleta

Fabian Salum é professor titular e pesquisador líder de estratégias competitivas com ênfase em modelo de negócio e gestão da inovação na FDC. Karina Coleta é professora e pesquisadora associada na FDC.

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