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Panspermia cósmica e mudanças climáticas

Será que a solução é alugar o Brasil, como Raul Seixas já cantou?

Colunista Carlos de Mathias Martins

Carlos de Mathias Martins

22 de Novembro

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Artigo Panspermia cósmica e mudanças climáticas

Em tempos de revolução digital, deve ser difícil para os consultores geeks, mercadores das afamadas ferramentas disruptivas, aceitar que criaturas descendentes dos procariontes detenham a tecnologia mais versátil para o combate às mudanças climáticas. São 3,5 bilhões de anos de existência do cruel mecanismo de seleção natural que garante que o mal funcionamento de um organismo vivo resulte na sua extinção. Através da fotossíntese, seres clorofilados utilizam a luz do sol para converter dióxido de carbono e água em glicose – a principal fonte de energia para organismos vivos. Por causa dessa reação química e sem utilizar inteligência artificial ou blockchain, os ecossistemas terrestres armazenam aproximadamente 1 trilhão de toneladas de CO2 em biomassa de árvores e plantas. 

Claro que o parágrafo acima não vale para o negacionista do clima, uma vez que as mudanças climáticas não passam de um embuste. Tampouco está valendo para o panspermista, já que a vida na Terra começou há bilhões de anos com um tardígrado preso nos escombros de um asteroide que caiu na cidade de Varginha, no estado de Minas Gerais.

A solução é alugar o Brasil

O painel de especialistas da ONU (IPCC), analisa, em seu Special Report de 2018, a trajetória de emissões de gases de efeito estufa (GEEs) derivadas de atividades antrópicas até o final do século – e o faz em quatro cenários distintos. Vale registrar mais uma vez que, de acordo com o IPCC, para que a Terra não sofra as consequências de uma provável emergência climática, as emissões liquidas de GEEs deverão chegar a zero em 2050. 

Ocorre que em três dos cenários propostos pelo IPCC, as emissões liquidas de GEEs começam a diminuir substancialmente já em 2020. Para desespero dos Masoquistas do Clima a humanidade ainda não está disposta a parar de comer carne, andar de carro e viajar de avião. Não vai acontecer, capisce? 

No quarto cenário, mais pessimista e provavelmente mais realista, as emissões liquidas de GEEs começam a declinar em 2030 atingindo zero em 2050. Nesse cenário, o IPCC considera como estratégia de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas majoritariamente a utilização de tecnologias de captura e remoção de CO2, incluindo a produção de energia a partir da biomassa (Beccs - Bio-Energy with Carbon Capture and Storage) e a agricultura e o manejo sustentável de florestas (Afolu - Agriculture, Forestry and Other Land Use). 

Vale notar ainda que, nesse cenário nº 4, as emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis demoram para cair, permanecendo no mesmo patamar até o ano 2050. Big Oil deve estar comemorando mas o agronegócio brasileiro também deveria estar atento. Segundo esta análise do IPCC e graças à fotossíntese e à seleção natural não existe país melhor posicionado na face da Terra, seja ela plana ou esférica, para salvar a humanidade da catástrofe climática.

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Colunista Carlos de Mathias Martins

Carlos de Mathias Martins

Carlos de Mathias Martins é engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da USP com MBA em finanças pela Columbia University. É empreendedor focado em cleantech.

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