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Por que uma empresa precisa ter um propósito?

O que acontece em momentos de crise como o atual é a aceleração do processo de perda de relevância. Entenda como isso acontece e evite que seja o seu caso

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

31 de Janeiro

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Artigo Por que uma empresa precisa ter um propósito?

Seu negócio está perdendo (ou perdeu) clientes? Perde vendas? E o mais importante, perde relevância? Pois então, o que deve estar acontecendo é que você perdeu a conexão com a sua essência.

Você se lembra ainda de quando começou esse negócio? Qual era a sua intenção? O que estava melhorando no mundo? Qual era a situação socio econômica da época? Tudo isso pode te ajudar a recuperar a sua essência, a relevância e ainda expressar de forma estruturada o seu propósito organizacional.

Então, sempre que falamos de propósito, ou aquilo que alguns chamam de missão precisamos destacar o trabalho de Simon Sinek, “Golden Circle”. Independente da terminologia que você usa ou está acostumado, vamos trabalhar com o seguinte modelo:

  • Visão é o mundo que estamos criando a partir de nossa organização.
  • Missão é como vamos sair de onde estamos e chegar na visão que estamos criando.
  • Propósito é a origem de tudo isso, o “por que”, a razão pela qual estamos criando nossa organização, o que nos inquietava para sair da zona de conforto, que problema estamos resolvendo para nossos clientes.

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Lendo essa nomenclatura, vem a pergunta que não quer calar: você perdeu muito nesta crise? Se sim, você não é o único. Isso está acontecendo com muitas organizações. Mas... você já pensou que a sua organização não está mais resolvendo nenhum problema relevante? Ou que você não gerou nenhum valor diferente do valor financeiro para si mesmo? E que, assim as pessoas não têm absolutamente nenhuma conexão emocional com a sua marca ou produto e te abandonam na primeira crise?

Pronto. Chegamos à importância de ter um propósito claro. De uma forma bastante simplificada, podemos definir o propósito como o encontro (ou a intersecção) entre nossos talentos e a necessidade do mercado. (Foi Aristóteles quem disse isso.) Às vezes, nosso talento se desenvolve e se afasta da necessidade, mas, com muito mais frequência, a necessidade do mercado muda e não ajustamos nossos talentos. Neste caso do desencontro entre talentos e a necessidade desencontrados, a organização perde seu propósito e sua relevância. Aí perde seus clientes, perde vendas.

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Claro, isso é apenas a ponta do iceberg. Muitas companhias nem têm ideia de quem são seus clientes, pois vivem de transações utilitárias, dinheiro em troca de um produto ou serviço, sem gerar valores em outras dimensões, sem criar conexões emocionais, sociais e assim por diante. É seu caso? Seja ou não, você consegue ver onde sua organização está em risco iminente por perder seu propósito?

Até o feirante se reinventou

As empresas que entendem por que estão fazendo o que fazem, que entendem os problemas que estão resolvendo, foram as que conseguiram se reinventar. A começar pelo feirante que não pode mais abrir sua barraca na rua para vender seus legumes, e segue vendendo, pois está conectado com seus clientes, entende as suas necessidades e sabe quanto e o que vai vender cada semana. Este segue vendendo.

Talvez na primeira ou segunda semana de pandemia e distanciamento social ele tenha registrado uma queda nas transações, mas, bem rápido, por estar emocionalmente conectado com seus clientes, descobriu uma forma de servir – ou melhor, de continuar servindo seus clientes, mesmo sem acesso ao espaço físico da rua onde montava sua barraca.

De feirantes empreendedores individuais a grandes organizações, tem organização de todos os tipos se reinventando, se adaptando e ajustando seus talentos para atender às necessidades que mudaram rapidamente neste momento de crise.

O que acontece em momentos de crise como o atual é a aceleração do processo de perda de relevância. Simples assim. Muitas empresas não percebem a mudança da necessidade no seu ecossistema de negócios e com isso deixam de ser relevantes. Esse processo ocorre continuamente, pois as necessidades são resultado do ambiente socioeconômico e, conforme esse ambiente muda, muda também a necessidade ou o problema que estamos resolvendo com nossa organização.

Fora das épocas de crise, é como a história do sapo em uma panela no fogo, o sapo vai se acostumando com a água aquecendo lentamente (a necessidade mudando lentamente) e acaba morrendo na água que começa a ferver. Se você jogar o sapo na água fervendo, ele pula fora. A água esquentando é o dia a dia fora das crises.

Precisamos revisar nosso proposito periodicamente para mantermos relevantes, ajustar nossos talentos para seguir resolvendo as necessidades do ecossistema. Quando a água ferver de repente, a diferença entre a necessidade e nossos talentos não será tão grande, a jornada de ajuste de nossos talentos as novas realidades nos permite reagir melhor as situações de crise.

Recuperando a relevância perdida

Bom, aí vem a fatídica pergunta, o que posso fazer agora para recuperar minha relevância, atualizar o meu propósito?

A resposta é: agora, muito pouco. Trate de ajustar sua organização para ela atravessa essa crise. Assim que as coisas acalmarem, embarque na jornada de ter um propósito claro. O Propósito Evolutivo é um dos fundamentos de um capitalismo mais consciente e somente com essa base estaremos mais bem preparado para a próxima crise que vier, que deve acontecer dentro de quatro a dez anos.

As únicas três coisas garantidas na vida são: a morte, os impostos e... a próxima crise. Se você não começar agora, provavelmente a sua organização não passará da próxima crise. Já pensou nisso?

Para as empresas em sofrimento, que vivem um momento difícil, esta é a melhor hora de começar a repensar a sua organização, voltar a sua essência, ajustar a realidade e se reinventar.

O propósito, sempre é bom lembrar, tem o poder de inspirar as pessoas a inovar, levar o nível de engajamento de clientes e de colaboradores a patamares mais altos, facilita a tomada de decisão, alinha interesses com parceiros e fortalece seu ecossistema de negócios. O que estamos vendo hoje em meio à crise, aqueles que tem um ecossistema de negócios forte e um propósito claro e atual, foram os que conseguiram reagir de forma mais eficiente.

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Autoria

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

Cofundador e ex-diretor geral do movimento do capitalismo consciente no Brasil, Thomas Eckschmidt é autor de Conscious Capitalism Field Guide e outros livros práticos para implementar os fundamentos de um capitalismo mais consciente. É ainda cofundador e CEO da Conscious Business Journey, uma rede de consultores com o propósito de acelerar a transformação para um ecossistema de negócios conscientes e atua como conselheiro em diversas empresas.Em seu site www.CBActivator.cc, Thomas disponibiliza um e-book sobre como ativar a consciência da sua organização. Ele encabeça o podcast Capitalista.Consciente, encontrado nos principais tocadores.

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