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Fórum: Governança 4.0 - Coprodução MITSMR + Bravo GRC

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Governança de dados em um mundo data-driven

Cultura de dados precisa estar integrada à estratégia das companhias para gerar vantagem competitiva e crescimento de longo prazo

Denise Turco

02 de Outubro

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Artigo Governança de dados em um mundo data-driven

Em um momento em que as empresas buscam ser proativamente data-driven em sua jornada digital, usando o máximo possível de informações para tomar decisões estratégicas, a cultura de governança de dados não é apenas uma prática recomendada, mas um fator crítico para o crescimento sustentável dos negócios. Somado a isso, ela se tornou imprescindível para acompanhar o aumento exponencial da inteligência artificial (IA).

Segundo um estudo do MIT, as companhias que têm iniciativas formais de governança de dados ainda são minoria: apenas 46%. Mas impulsionadas pela necessidade de implementar novas tecnologias, 64% das organizações têm investido mais em segurança de dados e 61% afirmam ter aumentado as ações relacionadas à qualidade dos dados. Privacidade e acessibilidade surgem em terceiro lugar, com 58%, seguidas por governança de dados, com 57%.

A governança ajuda a garantir informações seguras, precisas, confiáveis, disponíveis e padronizadas em todo o ciclo de vida do dado. Lidar com tudo isso ainda é tarefa complexa. Segundo Claudinei Elias, partner e CEO global da Ambipar ESG, além de CEO e fundador da Bravo GRC, normalmente as empresas têm dificuldade em estruturar, por exemplo, em quais sistemas estão seus dados, quem tem acesso a eles, qual área é responsável, o nível de intersecção entre os dados, além de planejar uma estrutura avançada de um repositório central que possa evoluir para um data lake ou para um delta lake.

“A governança de dados vai dar insumos, modelos, métodos e sistemas para capturar e organizar os dados para que eles possam, efetivamente, gerar e criar valor para as organizações”, afirma o executivo.

Desafios e princípios

Conduzir uma estratégia de governança de dados envolve uma série de desafios e princípios. Na visão de Elias, um dos principais desafios é desenvolver a cultura de dados, ou seja, a capacidade de valorizar os dados e fomentar uma cultura organizacional que promova a colaboração e o compartilhamento das informações entre as equipes. Aliás, compartilhar os dados ainda preocupa profissionais e organizações, porém, é preciso superar esse receio para se tornar data-driven, segundo o executivo.

Para André Filipe Batista, professor e coordenador do Centro de Ciência de Dados do Insper, é vital conscientizar e capacitar os colaboradores sobre a importância da governança de dados. “Isso envolve a definição de responsabilidades claras, incluindo a identificação de proprietários de dados, também conhecidos como data owners, bem como a promoção da colaboração eficaz entre as áreas de negócios e as equipes de dados”, afirma. Levantamento do MIT aponta que em cerca de 40% das companhias, a responsabilidade pela governança de dados é do CIO ou do CTO.

Do ponto de vista técnico, é preciso cuidar da padronização, ou seja, definir as diretrizes de coleta, compartilhamento e qualidade dos dados. Há também os desafios relacionados ao tratamento das informações, incluindo armazenamento, curadoria, transformação e integração nos processos de negócios. “Essa visão holística dos ativos de dados é fundamental para mapear a situação atual (as is) e projetar um estado futuro desejado (to be) em curto, médio e longo prazos”, diz o professor do Insper. Outra questão fundamental é a segurança cibernética para garantir a proteção às ameaças internas e externas.

Batista também chama a atenção para questões que ele classifica como estratégicas, relacionadas aos investimentos para otimizar o valor dos dados. “Isso geralmente envolve melhorar a infraestrutura tecnológica da organização, adquirir novas soluções de software, investir em capacitação de pessoal e estabelecer parcerias eficazes com fornecedores e parceiros de negócios”.

Em artigo publicado na MIT Sloan Management Review, Thomas H. Davenport, membro da Iniciativa MIT sobre Economia Digital, e Thomas C. Redman, presidente da Data Quality Solutions, apontam como a IA colabora para aprimorar o gerenciamento de dados e tem sido uma tecnologia crucial para criar um ambiente em que os dados possam ser úteis em toda a organização. De fato, dados organizados são indispensáveis para treinar corretamente os modelos de IA, mas na opinião de Elias, os gestores devem estar atentos a um ponto central: os vieses desta tecnologia.

Assim, a governança de dados requer transparência, com a definição de critérios para a manipulação dos dados para que as decisões sejam tomadas de forma íntegra e ética, como destaca Elias.

É preciso entender, ainda, as questões de compliance e regulamentações específicas de cada setor, sem perder de vista a lei de privacidade de dados, que pode mudar conforme a geografia – como a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) no Brasil e a General Data Protection Regulation (GDPR) na União Europeia.
Monitoramento e medição também compõem a lista de princípios a serem observados a fim de entender o nível de maturidade de dados e verificar se, de fato, a governança está se desenvolvendo na organização.

Orquestração do negócio

Quando bem estruturada, a governança de dados gera valor para a organização, possibilita a tomada de decisão ágil e com base em dados, melhora a gestão de risco e o compliance (GRC) e aprimora a eficiência operacional. Outro benefício é apoiar a inovação já que, ao conhecer melhor o negócio, é possível aperfeiçoar a capacidade de criar produtos, serviços e criar novas formas de executar processos. Portanto, gera uma vantagem competitiva sólida. “A governança de dados vai contribuir, e muito, para a orquestração do negócio”, afirma Elias.

Batista ressalta que a governança de dados deve ser estabelecida em todos os níveis da empresa, da estratégia à operação, para alcançar e sustentar o sucesso em um cenário cada vez mais competitivo e orientado por dados. “É imperativo que os executivos se familiarizem com os frameworks de governança de dados, compreendam estratégias para aprimorar a maturidade analítica e de governança, e desenvolvam programas concretos para implementar essas transformações em suas organizações”, diz o professor do Insper.

“Pense grande, comece pequeno e escale. É importante organizar as informações de forma estratégica. Tente começar de forma estruturada, independentemente se sua empresa tiver uma área ou equipe dedicada à governança de dados. Hoje há muitos mecanismos, tecnologias, metodologias e profissionais que podem ajudar sua empresa nessa jornada”, recomenda Elias.

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Autoria

Denise Turco

Denise Turco é colaboradora da MIT Sloan Review Brasil

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