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Inovação científica

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Inteligência artificial e seu impacto no sistema de saúde brasileiro

O desenvolvimento atual da IA na área da saúde ainda é inicial, com potencial futuro imprevisível. Mas já tem auxiliado os profissionais da saúde a se conectarem facilmente com a pacientes em áreas remotas, onde o acesso a recursos e médicos é limitado

Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

27 de Setembro

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Artigo Inteligência artificial e seu impacto no sistema de saúde brasileiro

Nos últimos meses, o debate sobre o potencial da tecnologia no setor de saúde ganhou muita força, especialmente após o ingresso do ChatGPT e de outras ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa no mercado. Enquanto alguns acreditam que seremos cada vez mais dependentes das máquinas, e gradualmente substituídos por elas, nossa visão é otimista, enxergando a IA como uma valiosa aliada para o setor da saúde, aumentando a atuação dos profissionais do setor e permitindo que se dediquem principalmente às tarefas que nos fazem humanos.

A IA tem o poder de realizar tarefas repetitivas, como detecção, mensuração e quantificação de dados, com eficiência e eficácia, liberando mais tempo para que os profissionais de saúde possam se dedicar ao cuidado direto aos pacientes, fornecendo tranquilidade em relação ao diagnóstico e tratamento, além de poderem participar de reuniões multidisciplinares e discussão de resultados com outros especialistas. Entendemos também que a IA, aliada a outras ferramentas de saúde digital, tem o poder de reduzir a necessidade de contato físico e presencial entre profissionais de saúde e pacientes, aliviando a sobrecarga das organizações de saúde, reduzindo a necessidade de grandes deslocamentos de pessoas e diminuindo o risco de disseminação de doenças. Todos esses pontos nos fazem vislumbrar a oportunidade de desafogar o sistema de saúde brasileiro, permitindo uma gestão mais eficiente do paciente crônico e aumento do acesso dos cidadãos à saúde de qualidade.

A tecnologia está transformando a forma como nos relacionamos com o mundo e assumindo papel cada vez mais relevante em um País como o Brasil, de vasto território e com diversos desafios de acesso à assistência à saúde. Projetos como a Saúde Digital, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), exemplificam como a estrutura tecnológica pode conectar profissionais de saúde a pacientes em áreas remotas, como as comunidades ribeirinhas da região amazônica, onde o acesso a recursos e médicos é limitado. Essa capacidade de alcançar e auxiliar populações desassistidas é uma das incríveis contribuições das novas tecnologias no campo da saúde, com tendência a se tornar cada vez mais presente na vida daqueles que habitam essas regiões.

Dentro do contexto específico de aplicação da IA na saúde, há diversas outras possibilidades a serem exploradas para otimizar ainda mais o sistema brasileiro. Duas delas se destacam:

  1. Processamento e análise de dados: a IA possibilita uma análise muito rápida de grandes quantidades de informações, o que economiza o tempo que os humanos levariam para processá-las. Isso proporciona aos médicos e aos demais profissionais de saúde maior velocidade e eficiência nas tomadas de decisão.
  2. Comunicação: diariamente, diversas informações e orientações precisam ser repetidas para diferentes pacientes, além do grande tempo consumido por profissionais de saúde para registrar dados nos prontuários eletrônicos, gerando sobrecarga de trabalho e alto risco de burnout. A IA, em conjunto com outras ferramentas digitais, pode otimizar o trabalho humano, transmitindo informações de forma precisa e consistente e auxiliando no registro de dados de saúde em prontuários, inclusive de forma estruturada.

É importante ressaltar que o desenvolvimento atual da IA na saúde ainda é inicial, com potencial futuro imprevisível. Pelos avanços até o momento, conseguimos enxergar que a sua utilização no setor tem se concentrado em acelerar processos operacionais que sobrecarregam as organizações, permitindo que os médicos e demais profissionais de saúde se concentrem em situações que realmente demandam sua dedicação e presença e possam utilizar a IA e outras tecnologias para a gestão e acompanhamento de pacientes crônicos com condições não agravadas, que muitas vezes buscam atendimento apenas para obter receitas e atestados, não necessitando de deslocamento ou mesmo de uma consulta presencial para tal.

Para assegurar a excelência na aplicação da IA na área da saúde, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP está desenvolvendo um curso pioneiro sobre o tema, com lançamento previsto para agosto de 2024. O objetivo será capacitar profissionais do setor para lidar com as mais recentes tecnologias de IA aplicadas à saúde, preparando-os para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades dessa revolução tecnológica.

Artigo escrito em parceria com Nataliê Sutilli, coordenadora do curso de inteligências artificiais da saúde digital da HCFMUSP e gerente de projetos na Indigo Hive, e com Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e diretor da divisão de pneumologia do Instituto do Coração (InCor).

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Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

É fundador, investidor e conselheiro de startups, principalmente na área da saúde. Médico radiologista, com especialização, doutorado e pós-doutorado no Brasil e no exterior. Tem experiência como executivo de grandes empresas de saúde, com MBA em gestão empresarial. Mais informações em: www.gustavomeirelles.com.

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