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Desenvolvimento pessoal

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Os quatro tipos de carreira

É possível construir qualquer trajetória profissional a partir dos quatro “tijolos”: linear, especialista, espiral e transitório. Apresentar o histórico de carreira usando esses componentes pode ajudar na próxima entrevista de emprego e a delinear seus objetivos profissionais

Colunista Augusto Dias Carneiro

Augusto Dias Carneiro

07 de Novembro

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Artigo Os quatro tipos de carreira

Meu amigo Ken Brousseau, enquanto era professor na Business School da University of Southern California (USC), nos Estados Unidos, propôs o modelo a seguir junto com Michael Driver, também da USC, mais dois professores da Universidade de Lund, na Suécia, Kristina Eneroth e Rikard Larsson. Na época, novembro de 1996, ainda era generalizada a ideia de que só havia uma trajetória de carreira possível, que todos chamavam de “up or out” com notas de crueldade que não seriam possíveis hoje em dia. São elas:

1 - Linear: você sobe linearmente pela hierarquia da organização, passando um tempo em cada nível. Você tem forte liderança, é competitiva, e orientada para resultados. Isto é óbvio para as pessoas ao seu redor, e algumas dessas pessoas observam que este é o jeito com que antigamente todo mundo achava que transitaria pelas empresas. Por exemplo, você entra para a Natura como especialista de produto, é promovida a gerente de grupo de produtos, depois a gerente de marketing, e 15 anos depois você é presidente da empresa, não necessariamente da Natura.

2 - Especialista: você preza por aperfeiçoar constantemente seu conhecimento de determinada disciplina, e aprecia a segurança da posição. Você provavelmente recusaria um convite para ser promovida, porque prefere resolver o mesmo problema, com crescente profundidade, toda segunda-feira de manhã. Aqui a gente encontra os geólogos/geofísicos (vide minha história favorita, abaixo), os cirurgiões (exemplo: cirurgia minimamente invasiva de tórax), e os advogados focalizados em um tema que exige aprendizado contínuo (exemplos: CADE, trabalhista, tributário).

3 - Espiral: você alterna movimentos laterais com promoções. Se você é da área financeira, por exemplo, só vai se sentir preparada para ser CFO depois de passar por, no mínimo, controladoria, tesouraria, e orçamento. Algumas empresas oficializaram o modo espiral a ponto de exigir isso de qualquer candidato na posição de diretoria. Essas pessoas são muito especiais no quesito “desenvolver os outros”, porque conhecem muito bem o que seus subordinados fazem.

4 - Transitório: suas habilidades não se encaixam na estrutura da empresa. Talvez a única competência que “gruda” em você é a de gestão de projetos. Você gosta de variedade, de testar habilidades e conhecimentos novos, preza a mobilidade geográfica, e não se incomoda de passar um bom tempo fora da sua zona de conforto. Mas pode ser que daqui a alguns anos queira migrar para um dos outros três tipos. Até lá, sua empresa vai convidá-la para comprar outra empresa e talvez geri-la pelos primeiros 18 meses, melhorar os resultados de uma divisão (quem sabe para depois vendê-la), fechar a filial do Cairo ou abrir a filial de Bruxelas.

Observe que com esses quatro componentes podemos descrever praticamente todas as trajetórias profissionais. Assim comecei como especialista, depois de cinco anos tornei-me linear, onde passei dez anos, em duas empresas. Depois fui espiral por outros dez anos, em três empresas. Hoje, sou transitório.

Agora tente descrever seu próprio histórico profissional usando os quatro componentes acima. E considere apresentar-se assim na sua próxima entrevista de emprego.

Se esta é a sua primeira exposição a esta descrição, o que lhe vem imediatamente na cabeça? Eis as quatro respostas mais frequentes de minha pesquisa informal:

  • “Eu sempre soube que nem todo mundo ambicionava uma promoção o tempo todo!”
  • E o avesso do comentário acima: “Algumas pessoas são tão discretas na sua ambição que a gente não sabe que querem ser promovidas.”
  • “Já vi mais de um especialista zangado por ter sido promovido!”
  • “Algumas empresas não sabem lidar com transitórios, e acabam perdendo essas pessoas imensamente talentosas”.

Minha história favorita: o geofísico Mark Moody-Stuart estava na Shell trabalhando com interpretação sísmica – uma função claramente especialista - quando alguém lá dentro achou que ele tinha potencial para ser presidente da empresa, numa trajetória que combinasse linear com espiral. Resumindo: Mark (hoje Sir Mark) chegou a presidente da Shell (posição que na época chamava-se VP Oil) 20 anos depois. O registro dele no linkedin está aqui.

Ken Brousseau hoje lidera a sua própria empresa de consultoria, a Decision Dynamics LLC. Quem leu meu livro já conhece o Ken. Eu não consegui achar o artigo original sobre o acima, mas tem um resumo muito bom no blog da Kathryn Welds. Aproveito para recomendar este blog dela, segredo bem guardado da comunidade de desenvolvimento organizacional.

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Colunista Augusto Dias Carneiro

Augusto Dias Carneiro

Coach, headhunter, autor, mediador e board member, Augusto Dias Carneiro é sócio da Zaitech Consultoria. Autor de Guia de Sobrevivência na Selva Empresarial.

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